Esta quarta-feira, em Turim, no campo da Juventus, Portugal abre o seu caminho em direção à presença na fase final do Campeonato do Mundo frente ao Azerbaijão. A infeta maleita, para a qual ninguém parece encontrar cura, continua a baralhar os calendários e a fazer viajar as equipas nacionais para lugares que não estavam previstos à partida. Colocado no Grupo A, tendo a companhia do tal Azerbaijão, da Sérvia, da Irlanda e do Luxemburgo, além do supranumerário Qatar, que irá aproveitar a oportunidade que lhe é dada para se exercitar durante este ano e meio que ainda dista para o início do Mundial, jogando contra as equipas enunciadas sem a pressão dos pontos, obviamente, a seleção nacional voltará a entrar em campo no dia 27, sábado, para enfrentar a Sérvia, e no dia 30, terça-feira seguinte, completando uma jornada tripla à qual não estávamos habituados.
Também o sistema de qualificação foi alterado, por via do aparecimento da Liga das Nações, cuja primeira edição Portugal venceu, batendo na final das Antas a Holanda por 1-0, mas que desta vez falhou perante uma França mais bem preparada e mais decidida. Assim sendo, os 10 vencedores dos grupos garantem lugar direto no Qatar, sobrando três lugares que serão ocupados numa fase de play-off na qual participam os segundos classificados de cada grupo mais os dois primeiros da Liga das Nações.
Toda a fase qualificatória estará concluída até 16 de novembro deste ano, exceto os play-offs que terão lugar entre 24 e 29 de março do próximo ano. Recorda-se que, pela primeira vez na história, a fase final do campeonato do mundo vai disputar-se durante o inverno do hemisfério norte – de 21 de novembro a 19 de dezembro. E pela última vez teremos 32 finalistas. Quatro anos mais tarde, nos Estados Unidos, México e Canadá, já serão 48. Um gigantismo impressionante que mudará para sempre a face dos Mundiais tal como os conhecemos até aqui mas, como sempre, o tilintar do dinheiro fala mais alto do que a voz da razoabilidade.
O fim de um problema
A atribuição da organização da fase final do Campeonato do Mundo ao Qatar foi envolta em polémica, com diversas acusações de votos comprados às Federações. É preciso dizer que, no fundo, se trata de mais do mesmo. Ou seja, nas últimas décadas, não terá havido nenhuma votação que fugisse a acusações deste calibre. Nem mesmo a impassível Alemanha, em 2006, escapou às dúvidas dos jornalistas que investigaram até às raízes as escolhas feitas por cada país.
O problema agravou-se com as críticas contínuas que surgiram de imediato. Primeiro referentes à capacidade de um país tão pequeno ter capacidade para organizar uma competição com a grandeza de um Mundial. Recorde-se que o Qatar possui apenas 11.437 km2. Algo equivalente a um terço do Alentejo, se pretenderem avaliar a sua área. Oito novos estádios continuam a ser erguidos, sendo quatro deles – Al Baihat (60 mil lugares), Cidade da Educação (40.350), Al Thumana (40.000) e Khalifa (40.000) na zona urbana da capital, Doha, que conta com cerca de 1.300.000 habitantes de uma totalidade de 2.500.000. O maior dos estádios é o Estádio Nacional de Lusail, a pouco mais de 30 quilómetros a norte de Doha, com 80.000 lugares. Refira-se ainda que os oito estádios estão concentrados num espaço de pouco mais de 3.000 km2, o que facilitará – é um dos motos deste Mundial – a vida dos adeptos que passam a ter a oportunidade de ver mais do que um jogo por dia – os estádios estão a ser ligados por uma rede de metro/comboio rápido.
No passado dia 5 de janeiro, o Qatar libertou-se finalmente da última das amarras que preocupavam os seus governantes. A Arábia Saudita, da qual é um enclave, reabriu as fronteiras depois de um embargo levantado pelo países vizinhos (Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito e Arábia Saudita). O Qatar comprometeu-se a abandonar todos os processos legais e pedidos de indemnizações que lançara (a maioria por perdas financeiras) e a assinar um pacto de não-agressão com os quatro países (o objetivo é pôr fim à guerra mediática e nas redes sociais). O Mundial poderá agora seguir dentro da normalidade. Uma normalidade tão estranha como a de ter passado do maior país do Mundo (Rússia, 2018) para um dos mais pequenos. É mesmo assim o futebol do dinheiro.