Um dos novos elementos apresentados na reunião do Infarmed desta terça-feira foi um estudo sobre diferenças nacionais na taxa de letalidade por covid-19. O tema já tinha sido aflorado pelo epidemiologista Henrique Barros nas últimas reuniões e foi agora mais detalhado, com uma análise do primeiro ano da pandemia, que se assinalou no passado 2 de março. Havia então 804 mil casos de covid-19 no país e 15 721 mortes. A taxa de letalidade da doença é calculada pela equipa do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto em 2% a nível nacional, ou seja, 2 em cada 100 pessoas diagnosticadas com a infeção desde 2 de março de 2020 não sobreviveram. O investigador adiantou, no entanto, que, se se tiver em conta casos assintomáticos que não foram diagnosticados, que estima que serão três vezes mais – o que significa que já poderá ter havido cerca de 2,4 milhões de infeções no país –, a taxa de letalidade de covid-19 será de 0,7%.
Mas não é igual para todos Na população mais velha, que representa a maioria das vítimas mortais, o risco de morrer no curso da covid-19 quase que duplica a cada década de vida: na faixa etária dos 70 anos, a letalidade neste primeiro ano da pandemia foi de 6%. Entre 80 e os 89 anos, de 13,6%. Acima dos 90, 20,5% das pessoas diagnosticas acabaram por morrer. O risco de morrer de covid-19 é maior nos mais velhos e também nos homens, com uma taxa de letalidade 2,27% contra 1,7% nas mulheres.
O epidemiologista chamou a atenção para diferenças regionais na taxa de letalidade e para o facto de a sobrecarga do SNS parecer estar ligada a um pior prognóstico. Ao longo da pandemia, a taxa de letalidade foi menor no Norte e na Madeira. Na Madeira há menos casos, mas no Norte houve vagas intensas e o número de casos foi idêntico ao da região de Lisboa e Vale do Tejo. Ainda assim, na região Norte a taxa de letalidade por covid-19 ronda os 1,52% e em Lisboa é de 2,17%. O Alentejo apresenta uma taxa de letalidade de 3,17%, a região Centro de 2,46% e o Algarve 1,64%.
Ajustando ao perfil de casos nas diferentes regiões por sexo, idade e naturalidade, “como forma indireta de perceber o estatuto de migração”, mantém-se a diferença na letalidade. O risco de morrer de covid-19 foi 11% superior na região Centro em relação ao Norte, usado pela equipa como valor base. Em Lisboa foi 43% superior, no Alentejo 27% e no Algarve 23%. Na Madeira, o risco de morte foi 60% inferior ao do Norte, metade do risco de morrer por covid-19 que se apura na região com melhores indicadores no continente. Não foram avançadas explicações mas a mesma análise do ISPUP concluiu que a probabilidade de morrer foi superior nos primeiros meses da pandemia e pode estar ligada à maior sobrecarga dos hospitais. Em março de 2020, a nível nacional, calculam que foi 94% superior ao do passado mês de janeiro, em que o país atingiu máximos históricos de mortalidade, com uma epidemia com uma incidência dez vezes superior à da primeira vaga. Em abril, 34% superior. No entanto, dezembro e janeiro tiveram maior letalidade do que os anteriores de verão e outono, números que Henrique Barros salvaguardou também que ainda não estão fechados porque alguns doentes estão ainda hospitalizados. “Isto mostra-nos que, embora estes dados não estejam fechados, os períodos de grande afluência e grande carga sobre o SNS podem ter tido um efeito na maior probabilidade de se morrer”, admitiu o investigador, recomendando uma monitorização destas variações para uma resposta mais incisiva à pandemia.
Novas variantes com maior letalidade O investigador apresentou ainda estimativas da letalidade associada às novas variantes, que sugerem maior letalidade do que as que foram dominantes no primeiro ano da covid-19. A partir de dados até meados de fevereiro, a variante do Reino Unido tem apresentado uma taxa de letalidade de 4,1%. Uma variante ligada a Espanha, segundo o INSA com 1115 casos no país, representou uma taxa de letalidade de 5,6%. A variante californiana, com uma variante idêntica em Portugal com 103 casos sequenciados, tem uma taxa de letalidade de 5,3%. A variante B.1.160 (do Luxemburgo/Noruega) tem uma taxa de letalidade de 5,4%. A variante brasileira P2, mais frequente no brasil e não a P1 que tem estado a suscitar alerta, uma letalidade estimada em 15,4%.