Sérvia-Portugal. Para já, batem certo as contas do engenheiro

Amanhã, em Belgrado, quem vencer dos dois favoritos do grupo ficará com uma agradável vantagem psicológica e classificativa. A menos que um ponto os faça felizes.

Não há, por mais que se torça a língua e se fenda o palato, forma de considerar que a seleção nacional deixou, na quarta-feira, em Turim – onde usou a casa emprestada pela Juventus – sinais de que, amanhã, estará preparada para qualquer cenário que lhe surja pela frente em Belgrado, local da segunda ronda deste Grupo A de qualificação europeia para a fase final do Campeonato do Mundo de 2022, no Qatar. Ao contrário do que aconteceu nos encontros mais recentes – derrota com a França, na Luz, por 0-1, e vitória na Croácia por 3-2, com ambos os desafios a contarem para a Liga das Nações – o selecionador Fernando Santos não cavalgou a onda da exibição medíocre para deixar reparos aos seus jogadores. Lá terá a sua estratégia, neste caso psicológica, para os levar a alcançar degraus mais consentâneos com o seu real valor no espaço de três dias. Ou pensará, para com os seus botões, que é difícil fazer pior do que aquilo que se viu frente a um Azerbaijão fraquinho, fraquinho, que de atrevido teve nada, aproximando-se muito a medo da baliza de Antony Lopes e criando, com boa vontade, talvez meia oportunidade de golo. Desmoralizados pelo ridículo auto-golo de Maksim Medvedev, aos 37 minutos, os azeris cedo perceberam que o sonho de alcançarem no mínimo um mísero pontinho não passava de um devaneio. Vendo-se a perder, deixaram-se estar para não perderem por mais. Quanto aos portugueses, tomados por uma indolência incomodativa, também pareceram contentes com o resultado. “Foi importante começar com uma vitória, agora vamos conversar com calma, fazer a análise do que se passou. O jogo com a Sérvia será diferente, mas sempre com confiança máxima nos meus jogadores”, afirmou o selecionador nacional, talvez meditando sobre o resultado dos sérvios que, em casa, se viram da cor dos gatos para bater a Irlanda por 3-2, tendo estado a perder por 0-1 dos 18 e aos 40 minutos, e assinando a reviravolta com golos de Vlahovic e de Mitrovic (2).

 

Favoritos

Aquando do sorteio, não houve quem não tivesse colocado Portugal destacadamente no papel de grande favorito para a vitória no grupo. Convenhamos que não deixou de o ser apenas por causa de uma exibição sofrível face a um adversário mau. Não faltou também quem colocasse a Sérvia no papel de opositor mais complicado no caminho lusitano até às areias do Qatar, no ano que vem, e a jornada inicial conserva, igualmente, essa teoria no campo da mais firme plausibilidade. Pelo caminho, percebemos, para já, que as coisas tomarão rumos diversos se os meias-tijelas continuarem a dar a luta que deram. No entanto, o encontro de sábado reveste-se de parâmetros diferentes já que irá colocar frente a frente o campeão da Europa e o sparring-partner sequioso de, senão um KO, pelo menos uma vitoriazinha aos pontos.

Fernando Santos surgiu, como já disse, muito menos agressivo do se que imaginava após tanto tempo de futebol tão pobre. “Não há puxões de orelhas. Na primeira parte controlámos sempre o jogo, podíamos ter construído um pouco melhor em termos de oportunidades, mas criámos situações para fazer golo. Não sei se o Azerbaijão terá passado da linha do meio-campo. Estivemos sempre organizados, compactos e a reagir bem à perda da bola. Faltou melhorar na zona de finalização, mas acabámos a ganhar. Na segunda parte, a equipa não teve a inspiração normal no seu jogo. Fez sempre um jogo muito curto, com pouca variação. Isso fez que o adversário começasse a acreditar e permitimos que o Azerbaijão se aproximasse da nossa baliza”. E já está! Nada da cara de pau que mostrou depois dos jogos face à França e à Croácia, mas também não é possível deixar fora da equação as mudanças a que foi obrigado no onze inicial. Claro que, além dessas, houve outras, da sua inteira responsabilidade, e mais difíceis de entender. As recentes carreiras no apuramento para a fase final do Campeonato da Europa de 2020, que passou para 2021, e da Liga das Nações, deixaram a imagem de que, na verdade, não somos assim tão bons como o título europeu e o aparecimento de meia-dúzia de jovens de qualidade indiscutível parece gritar aos sete ventos. Temos sido fabricadores de bons centro-campistas, de bons alas, mas não tanto no que se refere à produção daqueles jogadores diferentes que costumam deixar os adversários metidos numa camisa de onze varas quando lhes atacam os pontos fracos e lhes exigem superior atenção no centro do meio-campo e da defesa.

Amanhã é mais do que provável que o engenheiro proceda a alterações na formação inicial, fazendo com que um ou outro dos tidos como indiscutíveis regressem ao organigrama que conhecemos quase de cor. No embate entre Sérvia e Portugal, o vencedor ganhará, sem discussão, uma vantagem mental inequívoca, já para não falar de três pontos à maior. Vendo bem, talvez um empate satisfaça igualmente Fernando Santos e Gianni Di Biasi, dois técnicos reconhecidamente conservadores. Para quem gosta do espetáculo, seria o pior que poderia acontecer. Para quem vive para os pontos, dava para ir respirando ao mesmo tempo que, lado a lado, as duas melhores seleções do grupo se vigiam à espera do inesperado, ou seja, pontos perdidos pelo rival. Pelo menos, o engenheiro não está zangado: bom sinal!