Adiantar a hora dá naturalmente um sinal de movimento depois de um ano praticamente congelado pela pandemia. Mas os novos tempos e, neste contexto, falando da evolução tecnológica, também se encarregaram de resolver esse simples exercício de forma automática, pelo que agora só restam os relógios das cozinhas e um ou outro despertador – já considerado à moda antiga -, que vai conseguindo rivalizar com o smartphone o espaço da mesa de cabeceira.
E a primavera entrou ainda antes sem causar desilusões, com direito até a abertura fácil da gaveta dos fatos-de-banho, compartimento com espaço para guardar o sentimento de culpa face à desistência dos treinos caseiros. Pode não haver vista para o mar, mas há para quem não é alérgico ao sol e também vai aparecendo nas respetivas ‘praias privativas’. E, enquanto as varandas assumem o estatuto de divisão principal da casa, faz-se também a contagem decrescente para a reabertura das esplanadas, apesar dos primeiros dias de abril confirmarem, através da previsão meteorológica, a máxima ditada pela sabedoria popular.
Também os espetáculos começam a anunciar novas datas, nalguns casos no próximo mês, e, gota-a-gota, vamos relembrando a sensação do que era ter o rótulo de cabeça-de-cartaz do festival das nossas próprias vidas.
Por estes dias, na grande maioria deles, seguimos como espectadores atentos ao momento extraordinário que continuamos a viver e a fintá-lo, sempre que possível da melhor forma.
Assim, este sábado, em que se assinala o Dia Mundial do Teatro, nada como assistir a um espetáculo, embora à distância… de um clique. E aguardar para que a cortina volte a substituir rapidamente a janela do portátil, como nos bons velhos tempos.