“Não é por haver um teste negativo que podemos passar a Páscoa onde quisermos”

No Natal, testes por conta própria dispararam. Coordenador da task-force de testagem apela a que se mantenham os cuidados. Nova aplicação vai permitir reportar resultados negativos e positivos de testes feitos em casa.

Pontos de testagem em locais com maiores aglomerações como transportes públicos e concertos, brigadas móveis de testagem e testes disponibilizados de forma regular à população, sem deixar as pessoas com menos recursos para trás. São algumas das medidas que estão a ser estudadas pelo grupo de trabalho responsável pela operacionalização da testagem à covid-19 no país. Fernando Almeida, presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e coordenador da nova task-force da resposta à pandemia, afirmou esta semana ao Nascer do SOL, após a primeira reunião formal de trabalho da equipa, que todas as medidas que possam contribuir para reforçar a testagem no país serão incorporadas no plano a entregar ao Governo. A esta altura, «tudo está em equação», afirma. Na próxima semana já pode haver novidades e o papel do grupo de trabalho será coordenar todos os parceiros, entidades públicas, setores, autarquias e parceiros para uma testagem «inclusiva e participativa».

São três os eixos de intervenção, ajustáveis à situação epidemiológica. Um visa rastreios generalizados à covid-19 à população, «para encontrar casos de infeção de que de outra forma escapariam à deteção». Aqui entrarão os autotestes, que em breve começarão a chegar às farmácias e parafarmácias ou a hipótese de fazer teste em ‘drive-through’, o que até aqui só acontecia com prescrição do SNS24. E ninguém ficará de fora, chegando-se a populações mais vulneráveis como sem-abrigo ou trabalhadores sazonais. Questionado se, como noutros países, os cidadãos poderão fazer um teste por semana, ou outro tipo de periodicidade, o responsável adianta que é uma das medidas em análise e que entra neste eixo de intervenção. 

O segundo eixo é a ‘testagem dirigida’. «Como se intervém num surto numa escola, numa fábrica», exemplifica Fernando Almeida. Até aqui, brigadas móveis intervinham em lares, mas o conceito poderá ser alargado a mais áreas para aumentar a rapidez de identificação e isolamento.

O terceiro eixo são as testagens programadas, rastreios periódicos que no ano passado só foram feitos em lares e agora são alargados às escolas, e escalados com a reabertura de mais ciclos de ensino mas que Fernando Almeida adianta que abrangem serviços essenciais como forças de segurança, saúde e bombeiros. Questionado se também para os profissionais de saúde passará a ser obrigatória a testagem regular, Fernando Almeida diz não se querer antecipar ao grupo de trabalho, que analisa estas questões. A periodicidade em função do nível de incidência, que agora tem como baliza testagens mais regulares em concelhos com mais de 120 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias, está também a ser analisada e pode baixar, mas Fernando Almeida explica que terá de ter em conta aspetos como haver transmissão na comunidade ou não. «Num concelho com 3000 habitantes, é diferente haver cinco casos na mesma família ou em cinco famílias», diz. A hipótese de virem a ser disponibilizados nesses contextos kits para as pessoas poderem fazer o seu teste periódico em casa, como acontece nas escolas inglesas, é outras das ideias que Fernando Almeida, questionado pelo Nascer do SOL, diz estar em equação. 

Nova aplicação 

Com a escalada de testes e sobretudo autotestagem, como será feito o controlo? Fernando Almeida adianta que o sistema de notificação está a ser preparado: «Há um atestado de maioridade que é preciso dar às populações: se uma pessoa está interessada em fazer o teste, confiamos que perante o resultado, se for positivo ou negativo, o poderá notificar. Para já existe uma possibilidade: contactar o SNS24. Mas queremos que além disso exista uma app ou aplicação web em que a pessoa possa comunicar mais facilmente o resultado». No caso da StayAway Covid, o desenvolvimento levou meses mas o responsável afasta que isso venha a repetir-se. A preocupação é que seja um sistema de fácil utilização.

Testes voltaram a baixar

Na semana passada, com a abertura das escolas, os testes rápidos dispararam com um recorde de mais de 30 mil testes rápidos em dois dias mas esta semana os números voltaram a cair: não foram além dos 10 mil. Fernando Almeida sublinha que a taxa de positividade é baixa, na casa de 1,2%, e que o objetivo é aumentar a testagem ao longo do desconfinamento para manter valores desta ordem, sempre abaixo dos 4%, a linha vermelha. A reserva estratégia de testes, que a task-force passou a gerir, é «confortável» e que estão encomendados cerca de 13 milhões, adiantou ainda.

No Natal aumentaram os testes feitos por conta própria como ‘passaporte’ para convívios familiares. E agora, há o mesmo perigo? Fernando Almeida sublinha que a comunicação sobre o significado de um teste negativo, que dá a fotografia daquele dia, será essencial. «Todas as pessoas que vão fazer testes têm de saber que não estão seguras com um teste negativo. Não porque tenha uma sensibilidade menor, mas porque o resultado é válido naquele momento e mesmo assim podem ter sido infetadas antes e não haver o resultado. Não podem descurar as outras medidas. Esta testagem é importante para os negativos, mas é muito mais importante para apanhar casos positivos e é isso que queremos fazer rapidamente para evitar novas cadeias de transmissão». Quanto à semana que se avizinha, este é o apelo:«Não é por haver um teste negativo que podemos ir passar a Páscoa onde quisermos e com quem quisermos».