Dez meses depois do homicídio de George Floyd, começou nesta segunda-feira, num tribunal em Minneapolis, o julgamento do ex-polícia norte-americano Derek Chauvin, acusado de assassinar o cidadão afro-americano.
Este julgamento está a ser classificado como um momento “histórico” e que pode deixar uma marca no sistema judicial americano, mas também no racismo sistemático e na violência da polícia. “É um momento crucial”, disse o diretor do Centro de Investigação Judicial da Texas Southern University, Howard Henderson, ao Al Jazeera. “A fasquia está extremamente alta. Este momento irá simbolizar para o nosso país, para os afro-americanos, o quão longe chegámos e se estamos prontos para responsabilizar a Polícia”, acrescentou.
A advogada de direitos civis Areya Martin, considerou por seu lado que, além da família – que está à “procura de justiça” –, também o público está à espera que alguém “assuma a responsabilidade”. “O mundo está expectante para ver se os Estados Unidos vão ser suficientemente corajosos para fazerem frente a um sistema com um passado de violação dos direitos dos afro-americanos e que, em vez de proteger as suas vidas, acaba por as destruir”, afirmou a advogada ao Guardian.
Chauvin enfrenta acusações de homicídio, apesar de ter negado todos os crimes. A equipa de defesa do ex-polícia tem argumentado que George Floyd morreu de uma overdose de drogas e de problemas de coração, e não das ações de Chauvin.
Já a acusação, liderada pelo procurador-geral de Minnesota, Keith Ellison, alega que o ex-polícia tem um extenso histórico de utilização de excesso de força, ao longo da sua carreira de 20 anos, inclusive, ajoelhar-se em cima do pescoço de pessoas, como fez com Floyd.
Além de Chauvin, outros três agentes, que estavam presentes durante os factos que conduziram à morte de Floyd, também vão ser chamados a tribunal, em agosto, para responderem por acusações menores.
Os quatro agentes da autoridade foram saneados da Polícia após o incidente.
Este julgamento “histórico” irá tentar reverter uma tendência do sistema judicial norte-americano, que raramente culpabiliza as autoridades pelo uso excessivo de força. Só no ano passado, pelo menos 1.127 pessoas foram assassinadas por polícias nos Estados Unidos, indica o projeto de investigação Mapping Police Violence.
O homicídio de George Floyd aconteceu a 25 de maio de 2020, em plena via pública, depois de Chauvin ficar ajoelhado sobre o pescoço de George Floyd durante oito minutos e 46 segundos, asfixiando-o mortalmente. Um transeunte captou tudo em vídeo com o seu telemóvel e, mais tarde, postou-o na internet, onde se podia ouvir Floyd a suplicar por diversas vezes: “Por favor, não consigo respirar”.
Este brutal ataque desencadeou uma vaga de protestos antirracismo e contra a brutalidade policial em todo o mundo, sob o lema “Black Lives Matter” (“As vidas negras importam”), que muitas vezes adotavam a última frase proferida por Floyd como um grito de protesto.
As manifestações, que na grande maioria das vezes começavam de forma pacífica, foram marcadas por violentos confrontos com a Polícia. Segundo o Guardian, pelo menos 25 pessoas morreram nos Estados Unidos durante estes protestos, e, por isso, as autoridades de Minneapolis reforçaram a patrulha das ruas desta cidade enquanto o julgamento estiver a decorrer.