Joana Prazeres tem 33 anos e deixou Portugal há 11. «Em 2008/09 fiz um ano de intercâmbio de faculdade no Rio [de Janeiro]. Regressei a Portugal em plena crise económica, recém-formada em publicidade. As oportunidades de trabalho eram praticamente nulas e a minha vontade de voltar para o Rio era enorme», recorda. A juntar à experiência que havia colecionado em solo carioca, Joana lembra ainda a ligação familiar com a cidade e o mercado de trabalho favorável na área que ambicionava.
Razões suficientes que na hora de construir uma nova vida tornaram a escolha do destino «natural e óbvia»: «Decidi preparar-me da melhor forma possível durante uns meses – fazer alguns contatos, trabalhar para juntar o máximo de economias possíveis –, e, em seguida, ir em busca de oportunidades e do sonho de morar e construir uma vida no Rio». «O Rio sempre foi especial para mim. Sempre tive uma forte ligação com a cidade, também por influência da minha família materna que morou durante muitos anos aqui, antes de eu nascer», diz, adiantando que «além de ser um dos melhores destinos do mundo na minha área profissional, na época o Brasil estava num momento de enorme crescimento e poder económico».
Depois de ter trabalhado vários anos no mercado audiovisual como assistente de realização em cinema e publicidade, a jovem sentiu necessidade de criar os próprios projetos e atualmente é realizadora. Neste momento, o dia-a-dia acaba por estar mais condicionado devido à pandemia, sobretudo porque a «situação por aqui segue cada vez mais alarmante».
«Como sou freelancer, o meu dia-a-dia varia muito. É difícil manter uma rotina. Quando estou a trabalhar, sou completamente absorvida e não resta tempo para nada além disso», explica Joana Prazeres. «Ultimamente resume-se basicamente a sair apenas para o mínimo indispensável e para trabalhar com todos os protocolos necessários», acrescenta. No entanto, sempre que possível tenta «equilibrar a pressão e o stresse» que a profissão exige e «gosto de aproveitar a natureza»: «Andar de bicicleta e dar um mergulho no mar, fazer yoga na praia bem cedo, comer um açaí na lanchonete da esquina…».
A jovem realizadora confessa que não é missão simples enumerar todas as qualidades do Rio, embora destaque logo à partida a «alegria e a forma leve como o povo carioca encara a vida, apesar das enormes dificuldades». E continua: «A cultura, o clima, ser uma cidade grande inserida numa natureza exuberante, as praias, os morros, o calor humano, o abraço, a música, o carnaval, a leveza, o profissionalismo, a criatividade e o espírito de equipa no trabalho».
Depois de mais de uma década fora de Portugal, voltar parece tornar-se uma opção cada vez mais válida. «Confesso que ultimamente é uma ideia que me passa mais pela cabeça. A situação atual do país contribui, claro. Mas, mais do que isso, acho que tudo isto que vivemos no último ano mexeu com várias questões internas que, normalmente, não temos tempo para sentir na correria do dia-a-dia. Fez me refletir mais a fundo sobre a importância e a falta que me faz estar perto da minha estrutura, da minha família e dos meus amigos», admite. Por enquanto tenta vir a Portugal pelo menos uma vez por ano, algo que nem sempre foi possível devido ao trabalho. «Sempre fui tentando gerir de forma a que não ficasse mais de um ano sem ir». E aproveita também para relembrar os sabores da gastronomia portuguesa, dos quais também sente falta.