De acordo com o relatório divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) no passado sábado, o índice de transmissibilidade (RT) no Algarve já está acima de 1, o que, de acordo com o Governo, seria um sinal para não avançar com o desconfinamento.
Ainda segundo o mesmo relatório, 95% dos casos de covid-19 na região algarvia são da variante britânica, um valor muito acima do total do continente, onde os casos dessa variante representam 70,6% dos totais, enquanto, por outro lado, no Alentejo representam apenas 31,6%.
Desde fevereiro que esta variável, que indica quantos contágios uma pessoa infetada provoca, está a subir e a nível nacional encontra-se já muito perto da linha vermelha, nos 0,97. No entanto, o matemático Henrique Oliveira, professor no Instituto Superior Técnico (IST) acredita que este número já não se encontra atualizado.
“Eu não posso discordar dos relatórios da DGS, estão certos, só que há um pequeno problema, que é o facto de se referirem há muitos dias atrás. Ou seja, as nossas autoridades de saúde não estão a calcular o R(t) como faz o Instituto Robert Koch, na Alemanha, há quatro dias. O R(t) que é anunciado é uma média que termina no dia 28 de março”, explicou o especialista à TVI24.
Henrique Oliveira adiantou que, de acordo com os cálculos feitos pela sua equipa, “o R(t) estaria entre 1,02 e 1,10, estaria a ficar já próximo do 1,08”.
Importa lembrar que o primeiro-ministro, António Costa, avisou que teria de ser puxado um “travão” ao desconfinamento caso o RT atingisse o 1. Para o matemático, no entanto, não há dúvidas de que estamos a desconfinar com um índice de transmissibilidade superior a esse e que as novas medidas que hoje entram em vigor foram desencadeadas “com dados que ainda estavam atrasados”. Para que seja ainda possível um controlo da pandemia, Henrique Oliveira realça que “não devemos desconfinar tudo em bloco”.
Questionado sobre se acredita que se deve desconfinar com o RT superior ao inicialmente definido pelo Governo, o matemático afirma: “Uma pandemia não é um jogo político, obedece a factos. O vírus não tem uma lógica”.