Depois da divulgação da existência de uma possível ligação entre a administração da vacina da AstraZeneca e a ocorrência de eventos trombóticos nos pacientes que a recebem, o Infarmed e a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizaram, nesta quinta-feira, a informação sobre a mesma. As entidades reiteram que os “benefícios superam os riscos”, mas, até estar disponível informação adicional, a Vaxzevria só será administrada a pessoas com mais de 60 anos.
Mais idade, menos riscos?
“É possível a existência de uma ligação entre a administração da vacina e a ocorrência de acontecimentos trombóticos”, começou por explicar Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed, adiantando que “a covid-19 é uma doença grave associada a riscos de internamento e mortalidade e, nesse contexto, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) considerou que os benefícios da vacina continuam a superar os seus riscos”.
Consequentemente, o dirigente lembrou que na população inoculada que se encontra acima dos 60 anos não se identificou esta associação; abaixo desta idade, “há uma possível associação acima do esperado e que continua em investigação” e, deste modo, “à medida que a idade avança as complicações de covid-19 aumentam, mas diminuem os acontecimentos trombóticos”. Por outro lado, “nas populações mais jovens, os riscos são mais baixos”.
Naquilo que diz respeito a estes efeitos adversos, Santos Ivo realçou que “estamos a falar de mais de 30 milhões de vacinas administradas e pouco mais de cem casos” de tromboembolismo, sendo que, em território nacional, foram reportados dois destes casos, “um com a vacina da AstraZeneca e outro com uma das restantes”, tendo estes utentes menos de 60 anos.
Questionado acerca da eventual suspensão do contrato com a farmacêutica, Santos Ivo deixou claro que “as vacinas continuam a ser entregues, até tem havido insuficiência de entregas, de acordo com aquilo que estava previsto”.
Quem tomou primeira dose “deve estar tranquilo”
Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, lembrou que “o objetivo da campanha de vacinação é salvar vidas e prevenir esta doença grave” e, por isso, o plano será ajustado tendo em conta não só a monitorização dos efeitos secundários do fármaco, mas também a garantia de que “todas as pessoas são vacinadas com a vacina que as protege e é segura de acordo com o seu grupo etário”.
Acerca dos sentimentos nutridos por quem já foi inoculado com a primeira dose, Graça Freitas assegurou que as pessoas “devem estar tranquilas”, pois “as reações adversas que foram notificadas são extremamente raras”, mas, ainda assim, acrescentou que, “nos sete a 14 dias após a toma devem ficar atentas aos sintomas” – isto é, falta de ar, dor no peito, pernas inchadas, dor abdominal persistente, sintomas neurológicos, incluindo dores de cabeça fortes e persistentes, visão turva e pequenas manchas de sangue sob a pele além do local da injeção.
“ Dito isto, em relação às segundas doses, quero pedir às pessoas que se mantenham confiantes porque decorrem três meses entre as duas. Teremos informação adicional quer da firma produtora quer da EMA e agiremos em conformidade”, assegurou, declarando que “pelo princípio da precaução”, e existindo “vacinas disponíveis e capacidade de readaptar o plano”, a vacina não será administrada a maiores de 60 anos.
400 mil pessoas inoculadas
“O impacto desta recomendação no plano será pequeno”, disse o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force para a vacinação, elucidando que a vacinação do pessoal docente e não-docente não decorrerá este fim de semana, mas sim no seguinte “com as vacinas apropriadas para a sua faixa etária”.
“Por outro lado, temos uma população por vacinar acima dos 60 anos superior a 2 milhões de pessoas”, recordou, salientando que “sendo esta vacina útil a esta população”, continuará a ser administrada.
“Esperamos que no fim de maio a população com mais de 60 anos esteja vacinada”, revelou, informando que cerca de 400 mil portugueses receberam a Vaxzevria, serão rececionadas mais 1.4 milhões de doses da mesma no segundo trimestre do ano e existem aproximadamente 200 mil de reserva.
Questionado pelos jornalistas sobre a quantidade de pessoas que recusaram ser vacinadas com este fármaco, respondeu que “esse número não está bem contabilizado”, na medida em que a maior preocupação da task force passa por “vacinar, todos os dias, um número elevado de pessoas” e “felizmente, temos conseguido ter sempre pessoas para vacinar, não temos enfrentado o problema de não encontrar utentes que a queiram”.