Voltar à esplanada custou o preço correspondente a um dia de cafés em casa, normalmente mais um do que a quantidade máxima aconselhada pelos médicos. Mas o pequeno apontamento está longe de ser uma queixa, bem pelo contrário: foi um preço mais do que justo tendo em conta o luxo que se tornou uma simples ida à rua para beber um café logo pela manhã.
E a possibilidade de voltar a trocar mensagens com um convite para ir lanchar fora enche-nos logo à partida a alma. Muitos não hesitaram em pegar no portátil e fazer da esplanada o novo escritório, uma das vantagens oferecidas pelo teletrabalho. E os mais velhos também não se deixaram ficar e seguiram com uma ligeireza de meter inveja a muitos jovens. Na mesa ao lado, três senhoras já de idade avançada voltaram a encontrar-se depois de meses sem se verem.
Faltava a Lurdes, que apesar de também já ter tomado a primeira dose da vacina contra a covid ainda se mostrava receosa, sobretudo pela quantidade de pessoas que iriam querer usufruir dos primeiros momentos de maior liberdade passadas tantas semanas em cofinamento. Já a Alice comentava que o único medo que sentia era o de continuar em casa. E riam-se em alto e bom som. E acrescentavam que a máscara dava jeito para tapar a falta de dentes. E assim saía mais uma dose de gargalhadas para a mesa do trio.
Costumavam ir ao café todos os dias antes da pandemia. Embora garantam que são mais jovens do que muitos adolescentes, confessam que só se deixaram apanhar pela idade quando o tema trata o demasiado veloz comboio tecnológico. A Fernanda relembra que o telemóvel nem câmara fotográfica tem e apressa-se a dizer que nem queria, que já não é bonita mas que lhe resta esta bonita amizade.
É que ir à esplanada tem muito que se lhe diga. E vai muito além do ato de beber o café. «É só preciso ter cautela e seguir as regras e corre tudo bem», não duvidam. Só falta convencer a Lurdes a vir também. A deixa volta a ser motivo de piada.