Atualmente, 94% dos casos de covid-19 identificados no Algarve são derivados da variante britânica, sendo a região de Portugal mais afetada por esta, enquanto o país registou a nível nacional 82,9%.
"A presença da variante do Reino Unido a nível nacional representa 82,9% e, no Algarve, representa 94%, o que pode também explicar algumas das situações aqui na região", indicou a delegada de Saúde regional, Ana Cristina Guerreiro, em conferência de imprensa.
Os concelhos mais afetados do Algarve são Portimão, que apresenta “de forma destacada” uma taxa de incidência de 362 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias, e Albufeira, com 241 casos por 100 mil habitantes também no mesmo período de dias. De seguida, está Lagoa, Olhão e Faro.
A partir de uma operação de testagem em massa nas últimas semanas, foi possível entender que o “grande número de casos” em Portimão foi causado por um surto no setor da construção civil, que originou, até ao momento, 153 casos e outro surto numa padaria, com 62 casos confirmados, afirmou Ana Cristina Guerreiro.
O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Paulo Morgado, também culpa a variante britânica pela atual situação epidemiológica no Algarve, visto que esta se traduz numa "taxa de ataque superior", o que explica que "um caso primário dá origem a muitos casos secundários e terciários".
"É, de certa maneira, quase como uma nova doença relativamente àquilo a que estávamos habituados nos meses anteriores. Ainda é difícil dizer se atinge faixas etárias mais novas, mas estamos a ver que temos doentes mais jovens", observou Paulo Morgado, salvaguardando, porém, que há uma "tendência de regressão" dos contágios na região.
Neste momento, existem 13 surtos de covid-19 em creches, jardins-de-infância e escolas do 1.º ciclo. 42 turmas estão em isolamento, o que representa um total de 101 envolvidos, entre alunos e funcionários.
De acordo com a delegada de Saúde regional, comparativamente a períodos anteriores, há agora "uma maior incidência nas crianças", ao haver crianças contagiadas que "conseguiram fazer mais de 20 casos secundários", transmitindo o vírus dentro da própria sala de aula e às suas famílias.
“Notámos nesta fase, a partir de 15 de março, que havia um número maior de crianças positivas do que teria havido em situações anteriores. Imputamos este facto a uma possibilidade de o vírus ter [agora] maior apetência por grupos etários mais novos", salientou Ana Cristina Guerreiro, explicando que as crianças estão com sintomas leves, como "diarreia, tosse e rinorreia [corrimento excessivo de muco nasal]".
Contudo, apesar do aumento de número de infeções nas escolas, a responsável regional indicou que os locais de transmissão da covid-19 “continuam a ser, na maior parte das vezes, dentro das casas”, ao haver famílias completamente infetadas, porque en certa medida já se “perdeu o medo” da doença.
Ana Cristina Guerreiro explicou aos jornalistas que “não é fácil” relacionar a possibilidade de a variante britânica estar ligada a uma maior incidência do vírus entre os mais jovens, face ao crescimento de infeções em crianças, visto que a variante “ainda está em estudo”.
"Temos essa intuição, parece-nos que sim, mas terão de ser os investigadores a confirmá-lo", assinalou, acrescentando que as autoridades de saúde pública enviaram amostras para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que dirige o estudo de monitorização da disseminação da covid-19.