Os acontecimentos de Cabo Delgado, durante a Semana Santa, leva-nos a fazer muitas perguntas: até quando… Até quando continuaremos a ver os grupos extremistas religiosos a matar sem fazermos nada? Até quando deixaremos à mercê da sua sorte milhares de cristãos em África, no Paquistão, na Índia, na Síria, na Turquia, em França, em Espanha? Até quando…?
Nós ficámos escandalizados com o problema de Cabo Delgado, agora, que foi atacado um ponto de exploração económica de recursos naturais de Moçambique. O que eles querem, já se sabe, para além do terror, é dinheiro – esse vil que dá poder a quem o tem. Informem-se bem, mas aquela zona de Moçambique tem sido fustigada nos últimos quatro anos e até agora não se ouviu falar.
Mas porquê agora? Porque é que se falou agora e não há um ano ou dois? Quem fala com empresários portugueses que têm o seu negócio naquela zona do país sabe o que estou a falar. Há muito que as empresas têm as obras paradas e mandaram vir os seus empregados de volta à Europa. Na realidade, fala-se agora, porque atingiu a vida económica e os interesses dos ocidentais.
Parece que apareceram doze corpos decapitados de ocidentais. E é isso que é escandaloso para a comunidade internacional – ocidentais decapitados. É estranho dizer isto desta forma, mas o que vemos é que enquanto morreram apenas africanos ninguém falou destas invasões, mas assim que chegam aos brancos, ocidentais, o cenário muda de figura. Na realidade, a vida dos ocidentais tem, para muitos, mais importância do que a vida dos africanos.
No ano passado destruíram uma missão católica inteira. No site da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre há o relato: «Foi um ataque de uma proporção maior do que em abril. Esse ataque acabou com tudo! Tudo virou cinza (…) Tudo o que construímos com muita dificuldade [casas, paróquia, rádio, escolas, creche, centro de formação, ambulatório dentário] foi tudo destruído.
Tudo aqui em África constrói-se com muita dificuldade e com muita solidariedade internacional. Ver, de uma hora para a outra, tudo isso queimado… Fiquei em estado de choque e, humanamente falando, chorei muito… (…) Destruíram a cruz, uma cruz que é histórica lá para o povo, destruíram o pequeno santuário com a imagem de Nossa Senhora de Fátima… dá para perceber que estão mesmo fazendo isso como uma ofensa para os cristãos». Até quando? Até quando fechamos os olhos ao problema que é evidente para todos nós?
Não basta enviar associações e fundações e voluntários para estes territórios. Eles nos apanham na sua terra, hão de apanhar-nos e farão bom dinheiro com as nossas cabeças. Nós não podemos continuar a dizer que este não é um problema religioso. Não podemos continuar a dizer que não é um problema religioso, simplesmente, porque este é um problema religioso.
Enquanto nós deixarmos de fora da vida pública ocidental, a vida religiosa, estaremos a colaborar para que aumentem os movimentos de resistência e de ataque ao estilo de vida ocidental e ao cristianismo em todo o lado onde ele está.
Penso que seria a hora de começarmos a pensar num espaço de diálogo permanente entre religiões que possibilite a intervenção clara e inequívoca dos seus líderes de atentados – quaisquer que sejam – contra a vida humana, porque a violência não é, em nenhuma religião, compatível com a fé.
É necessário que haja um fórum islâmico, ao mais alto nível, que se demarque formalmente destes movimentos e os condene com o poder de que os seus líderes estão revestidos. Porque a verdade é que os políticos dão a sua opinião e dão desculpas: o terrorismo nada tem a ver com religião.
Isso é verdade! Mas penso que o que é mesmo importante é que os líderes muçulmanos se unam e que digam, realmente, que não é muçulmano quem faz tamanho atentado contra a vida de qualquer ser humano.