por Henrique Pinto de Mesquita
Boomer é uma abreviação de Baby Boomer, ou seja, aqueles que nasceram entre 1946 e 1964. Esta definição, todavia, não se encerra num período cronológico. Ter nascido durante o Baby Boom não é, sequer, o fator mais importante que caracteriza um Boomer. Ser Boomer é, sobretudo, ter uma postura rústica, desenquadrada e inconsequente perante o presente. Apesar desta ser a base comum aos Boomers, não há uma definição ortodoxa: é um conceito fluído que varia pelo mundo – cada cultura tem os seus próprios estereótipos. E se nos EUA os Boomers normalmente são associados aos rednecks – ultramontanos, javardos, inconsequentes –, em Portugal há, também, estereótipos de Boomer. O Boomer Tuga é um espetro fluído do qual tanto fará parte o ‘Velho do Restelo’, num tom mais politizado, como o ‘Tasqueiro do Vinho de malga’, num tom de aldeia perdida no interior, e ainda o ‘Caloteiro mulherengo-de-blazer-e-camisa-aberta-com-tufo-de-pelo-que-guia-um-cabriolet-usado-que-nunca-pagará-enquanto-toca-Dire-Straits-nas-alturas’, num tom mais festeiro de litoral. E não se esgota aqui.
Com o advento da internet, o Boomer Tuga veio à tona e ficou muito mais fácil de observar. O leitor mais curioso poderá encontrar espécimes no seu habitat natural e em número considerável nas caixas de comentários de qualquer jornal em Portugal. Se o comentário for ESCRITO EM CAPS LOCK, TIVER MAL ESCRITO, insultar o articulista, a sua mãe e – sobretudo isto – destilar ódio sobre os ‘Comunas’, é porque está na presença do Boomer Tuga 101. A postura de um Boomer Tuga é muito idêntica à postura de um partidário do Chega, o que corrobora a ideia de que um Boomer tanto pode ter 70 anos como 20. Outra das características típicas do Boomer é a sua tentativa de adaptação ao mundo digital e à ‘juventude’ (eis uma expressão que só os Boomers ainda usam). Desde selfies com o dedo no canto da câmara ou tiradas de baixo – que reproduzem um sublime triplo queixo –, ao uso excessivo da palavra ‘TOP’ para descrever toda e qualquer situação: «aquele leitão que comemos na Bairrada estava TOP!» ou «a minha neta Cláudia filha do meu mais novo está a tirar notas TOP». Acrescenta-se ainda o uso abusivo e errado de emojis, um vício enorme por reencaminhar notícias – a maior parte das vezes falsas –, e uma devoção por aquela secção de novidades do Lidl. Pesquisam por ‘mulheres nuas’ no Google e têm como frase preferida «esta juventude não presta, no meu tempo era muito melhor».
As gerações mais novas perceberam esta estética e códigos e têm-se divertido muito a ironizá-los na internet. Apesar de a crónica ser escrita num tom jocoso, digo com certeza que há, da parte da ‘juventude que usa a internet’, um carinho especial pelo Boomer Tuga e pelo Portugal simples, antigo e rústico que este corporiza. Um Portugal genuíno, em que se conheciam os vizinhos e se tinha férias de verão até ao fim de setembro. Um Portugal maroto, de noites quentes de Ofir ao Algarve, que José Pinhal e David Bruno respiram com bafo a álcool nas suas canções. David Bruno é o músico que melhor lê esta alma portuguesa – cristalizada na pessoa de Pinhal – e dela faz música num tom pós-irónico. É o Portugal dos Neons, do Café Central e das placas de Nitrato de Chile nas nacionais. Querido Boomer Tuga, vou-lhe contar um segredo: a gente goza consigo e aponta-lhe defeitos, mas a gente, lá no fundo, sabe que será uma questão de tempo até se tornar igual a si com o twist de saber desligar o Caps Lock e usar emojis adequadamente.