A PSP deteve na tarde desta sexta-feira dez pessoas que se manifestaram junto ao Conselho Superior da Magistratura (CSM), em Lisboa, onde Rui Fonseca e Castro, juiz que se opõe às medidas em vigor no âmbito do estado de emergência, foi ouvido.
"Já aqui se começa a aglomerar bastante gente à porta da esquadra. Já falei com o próprio juiz Rui Fonseca e Castro que veio apoiar os detidos. Já se soube, apesar da polícia não querer informar, que estão quatro aqui. Foram muito maltratados: estavam só a filmar e foram presos aleatoriamente. Quatro vieram parar aqui, quatro a outra esquadra e quatro ainda a outra. Não vamos arredar pé enquanto esta gente não sair", desabafou José Pinto-Coelho, apoiante do fundador do movimento Juristas Pela Verdade e da associação Habeas Corpus, durante um direto gravado para a sua conta de Facebook e posteriormente divulgado no grupo de apoio ao magistrado que, até agora, conta com 4100 membros.
"Este sistema é profundamente repressivo, injusto, ainda bem que apareceu o juiz. De uma vez por todas: saímos de casa, da nossa área de conforto, ou, qualquer dia, são todos escravos. Não se pode respirar que é logo prisão. E prisão sem qualquer tipo de contacto com o exterior, comunicação: é um silento ensurdecedor lá dentro. As pessoas começam a revoltar-se ou somos todos escravos qualquer dia", disse Pinto-Coelho, referindo-se aos detidos, entre os quais, João Patrocínio, secretário geral do partido Ergue-te – nacionalista de extrema-direita – e candidato à Câmara de Lisboa. Na página de Facebook do partido, é possível ler que o dirigente "foi detido juntamente com outras pessoas quando filmava a concentração de apoio ao juiz Rui Castro", seguindo-se a mensagem de que "quando alguém é preso apenas por estar a filmar ficamos com a firme certeza que se está a instaurar em Portugal um estado policial e que as nossas forças de segurança são cada vez mais fortes com os cidadãos cumpridores e cada vez mais fracos com os criminosos". Deste modo, a força política apela "a todos os patriotas a concentrar-se junto à 3ª Esquadra da PSP sita no Bairro Alto para em conjunto" exigirem "a libertação de todos os que foram presos".
"Não podemos respirar nem sair à rua porque os senhores donos disto tudo não deixam e mandam as polícias, que deviam proteger o cidadão, serem autênticas guardas pretorianas. São uns autênticos cãezinhos fardados do sistema. Sabem reclamar por questões corporativas, salariais, e não reclamam a sua dignidade de se comportarem como portugueses valorosos que deviam ser", afirmou Pinto-Coelho, não deixando, porém, de destacar que esta declaração não diz respeito a todos os agentes ainda que veja "cada vez mais alguns que são intratáveis" que se distinguem de "outros que são cinco estrelas".
"Já estão aqui cerca de vinte pessoas. Isto não pode ser. Disseram que vão ser presentes a juiz na segunda-feira. Mas estamos a brincar? Um sistema repressivo. Dizem eles que há liberdade: maldito 25 de abril, maldito regime este que tem de acabar de uma vez por todas. Venham até aqui: não abandonem quem tem coragem de estar na luta, isso não é digno. Aqueles que dão o corpo ao manifesto não podem ser abandonados nas horas difíceis", concluiu o dirigente político.
Recorde-se que Fonseca e Castro, que está suspenso preventivamente desde março por incentivar ao incumprimento das regras adotadas para controlar a evolução da covid-19, está a ser na tarde desta sexta-feira ouvido pelo instrutor do seu processo disciplinar no CSM.
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