Por Joana Faustino e Maria Moreira Rato
Tirar uma fotografia da população portuguesa é o objetivo primordial dos Censos 2021 cujo prazo para aceitação de respostas começou ontem e terminará no dia 3 de maio. As demógrafas Ana Alexandre Fernandes e Maria João Valente Rosa acreditam que os resultados não serão surpreendentes, pois prevê-se a existência de um maior número de pessoas com 80 e mais anos e uma cada vez mais estreita faixa de população em idade trabalhadora.
A importância do dia 19 de abril Depois de ter consigo a carta do Instituto Nacional de Estatística (INE), rececionada na caixa de correio, aceda ao site censos2021.ine.pt, digite o código e a password indicados na carta e, por fim, responda às perguntas. Quando terminar, selecione a opção ‘Entregar’ para que o sistema lhe devolva um comprovativo de resposta, que deve guardar. Para além desta modalidade, os cidadãos podem também responder aos questionários pelos meios alternativos disponibilizados pelo INE, que incluem o número de telefone 21 054 20 21. As respostas poderão também ser dadas nos e-balcões das Juntas de Freguesia ou preenchendo os questionários em papel que os recenseadores começarão a entregar a partir de 31 de maio. Maria João Valente Rosa, membro do Conselho Superior de Estatística, frisa que o início do envio das respostas corresponde também às características da população nesta data. “São retratos que se tiram. Por exemplo, alguém pode ser solteiro e casar dias depois. Ou seja, deve responder como sendo solteiro”, esclarece.
População mais envelhecida “De alguma maneira as estimativas que têm sido feitas traduzem a evolução que a estrutura vai tendo”, começa por explicar Ana Alexandre Fernandes, coordenadora das cadeiras de demografia e dos mestrados em Sociedade Risco e Saúde e Gerontologia Social, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP). “Provavelmente verificaremos a existência de muitas mais pessoas com 80 e mais anos, o topo da pirâmide etária a acentuar-se e a base a reduzir”, elucida, adicionando que, neste sentido, “estruturalmente vamos ter menos jovens e mais velhos, se calhar um pouco mais acentuado do que aquilo que estava previsto porque não têm entrado muitos migrantes e isso é importante”. É de lembrar que há dez anos, a pirâmide etária mostrava que o grupo de população com 70 ou mais anos havia tido um crescimento de 26% em dez anos. Por outro lado, o país perdera população em todos os grupos etários até aos 29 anos. A seu lado, Maria João Valente Rosa salienta que “estamos numa fase de pandemia que afetou particularmente a população nas idades superiores” e, por este motivo “podemos ter menos idosos do que teríamos, no entanto, vamos estar muito mais envelhecidos do que em 2011”.
Ainda seremos 10 milhões? “Só as migrações poderão traduzir um reequilíbrio, mas não me parece que tenha havido movimentos migratórios significativos para Portugal nos últimos anos e, por isso, acredito que a população portuguesa vai ser mais reduzida do que era em 2011”, afirma a docente do ISCSP que se dedica à investigação de temáticas como a do envelhecimento ou da saúde pública. “Atingimos o pico máximo em 2010, com 10.562.078 pessoas. De acordo com as estimativas que temos, podemos ser menos do que éramos em 2011, mas podemos continuar acima dos tais 10 milhões”, acrescenta Maria João Valente Rosa, antiga diretora da Pordata.
O impacto da pandemia “Se não tivéssemos nesta situação, penso que haveria diferenças. Uma delas pode ter a ver como a população se distribui pelo território”, diz ainda a docente da FCSH. “A mancha territorial vai ficar diferente: muitas pessoas mudaram de residência e até foram para residências secundárias, até porque se tornou possível o trabalho à distância”, menciona, referindo-se às mais de 500 mil pessoas que se encontram em regime de teletrabalho.”Já lá vai um ano de pandemia, há planos que se começam a consolidar. Também pode haver mudança porque muitas pessoas de nacionalidade estrangeira deixaram de residir em Portugal e há portugueses que regressaram”, destaca.
O espelho da sociedade Certa é a necessidade de Censos. Segundo o INE, o primeiro vestígio de contagens da população no território onde é hoje Portugal teve lugar no ano 0, por ordem do imperador César Augusto. Já nos quase 900 anos de história de Portugal, o primeiro de que se tem conhecimento remonta a 1260. O primeiro recenseamento geral da população “moderno” teve lugar em 1864 e a operação está a cargo do INE desde a sua criação, em 1935. “Precisamos, enquanto sociedade, de, em certos momentos, nos vermos ao espelho. É isso que o recenseamento permite fazer de 10 em 10 anos. Os dados de 2011 estão profundamente desatualizados”, refere Maria João Valente Rosa, acrescentando que “todos os raciocínios vão ficando desfasados em relação à realidade e esse acerto de contas é feito neste ano”. Por esta razão, “admite-se a possibilidade dos recenseamentos terem uma periodicidade menor”, pois, ainda que “estas operações sejam muito pesadas e envolvam um grande conjunto de áreas, nos termos tradicionais”, a demógrafa espera que “que tenhamos, no futuro, uma informação do tipo censitária com menor intervalo temporal”.
Para que este processo seja agilizado, sugere a promoção da entreajuda no seio da sociedade: “As pessoas têm de perceber que, mesmo que não fosse obrigatório, trata-se de um dever cívico. De outro modo, estamos a falar de mundos que não são reais. Espero que a taxa de cobertura dos Censos seja de 100%, isso seria o ideal”. Neste sentido, lembra que “nem toda a gente tem acesso à Internet, mas faz parte da nossa responsabilidade coletiva conseguirmos que toda a gente responda e alertarmos o INE para o caso de alguém não ter recebido a carta”.