O Governo decide na próxima semana a quarta etapa do desconfinamento, que prevê o fim das restrições de horários de esplanadas, restaurantes e museus ao fim de semana e a retoma de grandes eventos interiores e exteriores. Se as decisões serão tomadas com os dados que houver na altura, esta semana termina sem sobressaltos a nível geral apesar da subida vertiginosa na testagem – só em três dias foram feitos mais testes do que em toda a semana passada, com um recorde de quase 100 mil testes na quarta-feira, a maioria testes rápidos na retoma do ensino superior e nos despistes nas escolas que agora são feitos de forma massiva, chamando inclusive pais quando é detetado algum caso positivo. Não foi feito um balanço sobre a situação epidemiológica nas escolas mas na última semana o grupo etário entre os 10 e os 19 anos foi o único em que os diagnósticos subiram e esta semana, segundo os dados da DGS por faixa etária analisados pelo Nascer do SOL, segue a mesma tendência.
Os peritos voltam a ser ouvidos no Infarmed na próxima semana e este deverá ser um dos tópicos, mantendo-se por outro lado uma menor incidência agora nos grupos mais velhos, em particular maiores de 80, já mais de 91% com a primeira dose da vacina.
Quanto à tendência geral da pandemia, segundo o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, o RT agora calculado para o período de cinco dias entre 14 e 18 de abril – a semana em que se poderia verificar o impacto da abertura do primeiro e segundo ciclo – baixou e não houve aparentemente um efeito significativo do pós-Páscoa na aceleração da epidemia. O INSA volta mesmo a falar de uma tendência de decréscimo da incidência de SARS-CoV-2, sendo que o Norte é a única região do país que neste intervalo de datas se encontrava com uma tendência de aumento de casos. E o RT acima de 1 há 22 dias.
Diagnósticos só sobem na região Norte mas há concelhos na linha de risco em todo o país
A análise do INSA tem sempre algum desfasamento temporal (para consolidação dos casos notificados por data de início de sintomas) mas o balanço dos últimos sete dias a partir dos dados divulgados pela DGS indicia que a tendência se mantém, com a região Norte a ser a única em que os casos diagnosticados aumentaram em relação aos sete dias anteriores.
Segundo os dados disponibilizados pela DGS, que o Nascer do SOL analisou, ao todo a nível nacional diagnosticaram-se nos últimos sete dias 3486 novos casos de covid-19, uma redução ligeira face à semana passada. Na região Norte foram detetados 1478 novos casos de covid-19 nos últimos sete dias, mais 16% do que nos sete dias anteriores, sendo que nas restantes regiões houve uma diminuição.
Será preciso perceber se existe alguma diferença na testagem que possa explicar as variações, sendo que as semanas têm sido todas bastante diferentes no número de testes e não foi definida uma periodicidade para a sua realização, por exemplo, nos estabelecimentos de ensino – mas esse tipo de informação não é disponibilizada regularmente pela autoridade de saúde.
As regiões estão agora todas de novo abaixo do patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes definido pelo Governo como linha vermelha para travar o desconfinamento – sendo a exceção a região autónoma dos Açores. No Algarve, que chegou a tocar esta linha de alerta embora não tenha havido um travão regional no desconfinamento – recuou apenas no concelho de Portimão e em Albufeira não se avançou para a terceira etapa – a incidência baixou já esta semana e situava-se ontem na casa dos 103 casos por 100 mil habitantes.
Ainda assim, o Governo tem seguido uma estratégia de decisões consoante a situação epidemiológica a nível local e o que interessa é a situação em cada concelho. O último balanço feito pela DGS esta sexta-feira, que ainda não é o que será tido em conta pelo Executivo na próxima semana, mostra que pelo menos no que pode ser considerada uma avaliação intercalar desta terceira etapa do desconfinamento há mais concelhos na linha vermelha, mas a situação mantém-se bastante desigual no continente e o país deverá prosseguir o desconfinamento a diferentes velocidades.
Quando se avançou para a terceira etapa de reabertura havia 29 concelhos com mais de 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, incluindo municípios das ilhas que não entram nestas decisões por haver autonomia nas regiões autónomas nas medidas de combate à pandemia, salientou no arranque deste processo o primeiro-ministro.
Nesta avaliação da DGS, que diz respeito ao período entre 7 e 20 de abril, são 43 concelhos com mais de 120 casos por 100 mil habitantes. Os dados brutos, que o Nascer do SOL analisou, mostram que neste período, em relação à avaliação usada pelo Governo na última tomada de decisões, a incidência subiu em 100 concelhos e baixou nos restantes. Aqui note-se que baixou, por exemplo, ligeiramente em concelhos da área metropolitana de Lisboa, incluindo Lisboa, Cascais e Sintra, que no primeiro desconfinamento do ano passado acabam por ter medidas mais intensas algum tempo depois devido ao recrudescimento da pandemia. E também em Vila Franca de Xira, que fazia parte dos 13 concelhos que ficaram de sobreaviso por já estar com mais de 120 casos por 100 mil habitantes, sendo dos mais densamente povoados e para os quais António Costa chamou a atençã, baixou a incidência. Mantendo-se esta trajetória, e agora com 111 casos por 100 mil habitantes, Vila Franca já não está na linha vermelha para ter um travão no desconfinamento na segunda avaliação na próxima semana.
Concelhos em risco de travar desconfinamento no Norte
O mesmo não pode dizer-se dos concelhos do Norte do país que estavam na mesma situação e também foram sinalizados por terem passado os 120 casos por 100 mil habitantes e que à segunda avaliação consecutiva na mesma situação arriscam não avançar para a quarta etapa ou recuar se passarem os 240 casos por 100 mil habitantes. Resende está neste último grupo: sobe de 385 casos para 572 casos por 100 mil habitantes nesta última avaliação. Mas também Paredes, que sobe de 138 para 209 casos por 100 mil habitantes a 14 dias nesta avaliação intercalar, como Vila Nova de Famalicão (146 casos por 100 mil habitantes) e Valongo (185 casos por 100 mil habitantes) viram a incidência subir e, mantendo-se a trajetória, podem não avançar para a próxima etapa.
Quanto aos concelhos que recuaram à segunda etapa do desconfinamento na última avaliação, a situação também é diversa. Em Odemira a incidência continua a subir mas a autarquia já protestou com o facto de ter mais população do que a que surge nas estatísticas (quase o dobro, contando com migrantes) o que deverá ser tido em conta na próxima avaliação.
Em Portimão a incidência baixou mas continuava no início desta semana acima do patamar dos 240 casos por 100 mil habitantes, que levaram a um passo atrás no desconfinamento e que ainda não devem trazer boas notícias a Sul. Aliás, Aljezur, não sendo um dos concelhos mais populosos, também estava no grupo de 13 em pré-aviso e a incidência também subiu significativamente, de 304 para 501 casos por 100 mil habitantes, pelo que arrisca também um travão se não forem introduzidos critérios diferentes para concelhos mais pequenos, que com poucos casos ou um surto podem ver a incidência disparar imediatamente. Moura e Rio Maior, onde o desconfinamento recuou à segunda etapa, já desceram do patamar dos 240 casos por 100 mil habitantes, estando agora no intervalo dos 120 casos por 100 mil habitantes, pelo que poderão ver de novo algum alívio das medidas.