Quase um ano depois da morte de George Floyd às mãos do polícia Derek Chauvin, acontecimento que despoletou uma miríade de manifestações contra a violência policial em todo o mundo, a família da vítima viu ser feita justiça.
Após uma deliberação que demorou cerca de 10 horas, o júri composto por 12 jurados – seis brancos, quatro afro-americanos e dois multirraciais considerou que Chauvin foi culpado de três crimes: homicídio em segundo grau, punível com até 40 anos de prisão; assassínio em terceiro grau, com pena máxima de 25 anos, e também em segundo grau, com pena de prisão até 10 anos.
Apesar de Chauvin, segundo as leis de Minneapolis, só poder ser condenado a um máximo de 12 anos e meio de prisão, uma vez que não tem antecedentes criminais, por cada uma das duas primeiras acusações e apenas a quatro anos de prisão pela terceira, os advogados de acusação estão a trabalhar para que esta pena seja aumentada.
«A justiça dolorosamente conquistada chegou à família de George Floyd e à comunidade em Minneapolis», pode ler-se no comunicado divulgado pelos familiares e o advogado Ben Crump, após ter sido revelada a conclusão do caso.
«O veredicto de hoje vai muito além desta cidade e tem implicações significativas para o país e até mesmo para o mundo», acrescentou.
Depois de ser lida a sentença, Chauvin foi escoltado para fora do tribunal. Atualmente, encontra-se em isolamento durante 23 horas por dia, numa prisão de segurança máxima. Segundo a Sky News, a sua cela é verificada de 30 em 30 minutos, as suas refeições são entregues diretamente na cela e será alvo de exame psicológicos a cada três meses.
Euforia à porta do tribunal
Do lado de fora do edifício onde Chauvin era julgado, centenas aguardavam expectantes o desenrolar deste caso e o resultado do veredicto não desiludiu. Era possível ouvir buzinas de carros, enquanto outras pessoas choravam de felicidade. Um ambiente… mais ou menos de celebração.
«A mudança chegou», gritavam dezenas de pessoas que marchavam nas ruas de Minneapolis, enquanto um homem dizia através de um megafone: «Nunca deixem ninguém dizer que os protestos não funcionam».
«A mudança era necessária. Acredito que este veredicto vai mudar as próximas gerações», disse Jermal Gavin, residente de Minneapolis, à Al Jazeera.
A cerca de 1800 km de distância, em Third Ward, bairro histórico negro na cidade de Houston, onde Floyd cresceu, o cidadão James Walker, de 39 anos, descreveu este veredicto à Al Jazeera como agridoce. «A vida [de George Floyd] continua sem existir. Não vejo este momento como uma celebração. Vamos dizer que é um passo prematuro para aquilo de que todos precisamos… Estou feliz pelo resultado», disse Walker.
A condenação de Chauvin despertou sentimentos mistos, mas é inegável que trouxe uma sensação de desfecho para o caso. O único familiar de Floyd presente em tribunal foi o seu irmão, Philonise, que se sentou em silêncio a rezar enquanto aguardava o veredicto. «Estava apenas a rezar para o declararem culpado», confessou ao Guardian. «Como afro-americano, não costumamos receber grande justiça».
Passo gigante
O Presidente norte-americano, Joe Biden, já reagiu à condenação do ex-polícia de Minneapolis, dizendo que este «pode ser um passo gigante» contra o racismo sistémico.
«‘Não consigo respirar’. Estas foram as últimas palavras de George Floyd. Não podemos deixar que estar morram com ele. Temos que continuar a ouvi-las. Não devemos, nem podemos afastar-nos. Este é um momento que pode provocar uma grande mudança», disse Biden.
A vice-presidente Kamala Harris admitiu sentir-se «aliviada» com a decisão do júri, mas recordou que «ainda há muito a fazer» para combater a injustiça racial, um problema que impede o país «de cumprir a sua promessa de liberdade e justiça para todos».
Biden já tinha transmitido, numa chamada telefónica feita à família de George Floyd, que a condenação foi «importante», mas prometeu fazer «muito mais» para abordar o racismo sistémico nos EUA.