Depois dos violentos ataques de grupos rebeldes na cidade moçambicana de Palma, a petrolífera Total, que ali tem sediado um projeto de gás, anunciou, esta segunda-feira, que, por motivos de “força maior”, iria retirar todo o seu pessoal do norte de Moçambique.
“Considerando a evolução da situação de segurança no Norte da província de Cabo Delgado, em Moçambique, a Total confirma a retirada de todo o pessoal do projeto Moçambique LNG do local de Afungi”, explica o comunicado divulgado pela petrolífera.
“A Total expressa a sua solidariedade para com o Governo e povo de Moçambique e deseja que as ações desenvolvidas” pelo país e parceiros “permitam o restabelecimento da segurança e estabilidade na província de Cabo Delgado de forma sustentada”, conclui, sem acrescentar qualquer tipo de esclarecimentos adicionais. O projeto de gás em Moçambique está avaliado em 20 mil milhões de euros e é o maior investimento privado em curso em África.
Suspensão do projeto Apesar da retirada “force majeure’” conceito usado em direito para justificar com fatores externos o incumprimento de determinadas obrigações assumidas, a Total fez questão de referir que o projeto não foi cancelado, mas sim suspenso, e que continua “comprometida com Moçambique”.
“No ambiente atual, a Total não pode continuar a operar em Cabo Delgado de maneira segura e eficiente, por isso todo o pessoal foi retirado e não voltará até que as condições o permitam”, disse uma fonte da petrolífera à Lusa. “A Total continua comprometida com Moçambique e com o desenvolvimento do projeto da Área 1 quando as condições o permitirem, e continuará a acompanhar a evolução da situação com atenção”, disse a porta-voz da empresa à agência portuguesa.
A responsável pela comunicação da petrolífera, Anastasia Zhivulina, justificou que “a ‘força maior’ foi declarada porque a Total é incapaz de cumprir as suas obrigações em resultado da severa deterioração da situação de segurança, um assunto que fora do controlo da Total”, sublinhando que o projeto está temporariamente suspenso, e não cancelado.
A retirada do pessoal da empresa acontece após o Estado Islâmico ter anunciado no final do mês passado que assumiu o controlo da vila sede do distrito de Palma, em conflitos que já ceifaram a vida a dezenas de pessoas.
A Total já tinha retirado alguns trabalhadores e suspendido diversos empreendimentos, mas, agora, irá abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás na península de Afungi, seis quilómetros a sul da vila.
A multinacional petrolífera francesa celebrou nesta zona acordos com o Governo moçambicano que tornaram a subsidiária da petrolífera, Total Trading & Shipping (Totsa), a nova importadora de combustíveis para Moçambique a partir de novembro do ano passado e asseguraram o entendimento e operacionalização de uma força conjunta para a segurança do projeto de gás natural do consórcio da Área 1 da bacia do Rovuma, norte de Moçambique.
Com o início de produção de gás natural liquefeito estava previsto para 2024, é neste projeto que estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.