O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu um aprofundamento da interação entre as políticas monetária e fiscal promovida desde o início da pandemia, bem como um um direcionamento das medidas para apoiar os setores que foram mais afetados pela crise gerada pela pandemia. “A Europa, em 2020, foi capaz de desbloquear a interação entre a política monetária e a política fiscal e as externalidades desta interação são tão grandes, que é muito difícil identificar limites num sentido ou noutro. Acho que temos de continuar a explorar estas interações, pondo de lado preocupações de dominância fiscal ou outras formas de limite à ação das políticas monetária ou fiscal”, afirmou Mário Centeno num webinar sobre “Política monetária em transição”, promovido pelo Institute of International and European Affairs.
O antigo ministro das Finanças disse ainda não ter dúvidas de que “a resposta dada à pandemia é um exemplo impressionante do poder da interação entre as políticas monetária e fiscal”. Aliás, Mário Centeno garantiu ainda que a política monetária “assegurou o correto funcionamento do sistema de financiamento no pico da crise, mas a política fiscal desempenhou um papel complementar imediato e crucial, nomeadamente para as empresas e as famílias”.
E com as melhorias registas ao nível da pandemia, admitiu que “as medidas precisam de ser ajustadas”, principalmente para ajudar setores mais vulneráveis, apesar de reconhecer que “as decisões tomadas em 2020, por muito corajosas que tenham sido, foram mais simples de desenhar do que o que vem a seguir”.
Avalanche de insolvências Ainda esta quarta-feira, o Conselho Europeu do Risco Sistémico alertou para a possibilidade de um tsunami de insolvências de empresas justificada pelos apoios públicos à economia que serão retirados. As ajudas financeiras dos governos europeus travaram os números mas a retirada dessas ajudas pode ser fatal. “A questão-chave é até que ponto as medidas de apoio nesta crise tiveram o efeito de meramente adiar ou prevenir de forma duradoura uma grande onda de insolvências empresariais”, lê-se no relatório, que deixa o alerta: “No cenário mais negativo, as insolvências adiadas materializar-se-iam repentinamente e desencadeariam uma dinâmica recessiva, potencialmente causando mais insolvências. O atual baixo índice de insolvências seria então semelhante ao mar a recuar antes de um tsunami”.