O Banco de Portugal (BdP) considera que a auditora KPMG “tinha plena consciência” desde 2011 da pouca informação sobre o Banco Espírito Santo Angola (BESA), o que deveria levar a reservas nas contas consolidadas ao BES.
De acordo com uma missiva enviada à Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução a que a Lusa teve acesso, a entidade liderada por Mário Centeno lembra que “tanto a KPMG Angola como a KPMG Portugal tinham plena consciência, desde pelo menos 2011, da ausência de informação essencial para avaliar o risco associado à carteira de crédito do BESA (e, portanto, do impacto que a qualidade desta carteira de crédito tinha nas contas do BES)”, acrescentando que os auditores saberiam “que estavam perante factos suscetíveis de determinar a aposição de uma reserva de âmbito nas contas consolidadas do BES”.
Na carta, o supervisor dá conta de que “esta situação não era do conhecimento do Banco de Portugal, que apenas teve acesso aos documentos em causa após agosto de 2014”.
Afasta canal de influência No mesmo dia, o gestor da C2 Capital Partners e ex-vice-presidente do Benfica Nuno Gaioso Ribeiro rejeitou a existência de um “canal de influência” no clube para reestruturar a dívida da Promovalor, empresa do presidente benfiquista Luís Filipe Vieira. “Quando o senhor deputado diz ou insinua que continua a haver e que existia um canal de influência, isso é absolutamente falso e insultuoso para a minha parte. O senhor deputado não pode imaginar que pessoas que integram a direção do Benfica, não remuneradamente, mantendo uma vida profissional” passam a “violar os seus deveres profissionais”, afirmou na comissão de inquérito ao Novo Banco.
Recorde-se que a empresa de Nuno Gaioso Ribeiro, antigo vice-presidente do Benfica, comprou créditos ao Novo Banco devidos pela Promovalor, empresa do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, mas o gestor da C2 Capital Partners apelidou de “conversa de café” a possibilidade de existir qualquer conflito de interesses.
Nuno Gaioso Ribeiro disse ainda que, antes do fundo para a reestruturação dos créditos da Promovalor, a instituição financeira já trabalhava com a C2 Capital Partners em dois fundos, acrescentando que “todas as operações de reestruturação feitas neste país por fundos de reestruturação pressupuseram a confiança do devedor e do credor”.
O gestor disse também que o facto de ter participado nos órgãos sociais do Benfica e da Benfica SAD, nos quais coincidiu com Luís Filipe Vieira durante oito anos, não faz com que passe a violar “os deveres profissionais”, “de sigilo” ou as regras que determinam a sua “carteira profissional” e “idoneidade acionista e de gestão relativamente ao regulador ou a qualquer entidade”.
Na sua intervenção inicial, o responsável já tinha dito que “os interesses da sociedade eram e são em absoluto convergentes, estão totalmente alinhados, com os dos investidores: gerir o fundo no melhor interesse destes e recuperar capital seguindo o plano contratual estabelecido”.