Temos andado, nestes dias, a comemorar o 25 de Abril. Sim, há razões para isso, da mesma forma como, antes de 1974, íamos, uns quantos antifascistas, em 5 de Outubro, ao cemitério do Alto de São João, comemorar a implantação da República. A diferença é que, nessa altura, os pides cá fora do cemitério, eram quase tantos como os antifascistas, distinguindo-se pelos seus bonezinhos (ou outra sinalética) que usavam. Na altura, era muito mais difícil ‘virar aquilo de pernas para o ar’. Nós oficiais e cadetes da Armada, ainda muito novinhos, dos 19 aos 23, que acompanhávamos aquele ritual, calculávamos que o nosso destino seria igual a tantos outros daquelas gerações: sermos presos, expulsos da Armada e ganharmos o pão para os filhos a fazer traduções.
Aquela I República decrépita não havia resolvido qualquer problema nacional. Diria, sucintamente, que mandou (e abandonou) uns milhares de jovens para ‘morrer na Flandres’ em troca da manutenção das colónias africanas; de resto, foi um desastre. Segundo Ilya Prigogine, aquele ‘sistema’ estava ‘dissipado’ perante os seus elevados níveis de entropia. Dali não saía mais nada.
Não vou discutir (e menos defender) o Estado Novo. No entanto, ‘deu-nos tempo’ para ler umas coisas, observar outras e tentarmos encontrar algumas soluções. Anquilosado, sem qualquer capacidade adaptativa a um mundo em mutação, limitou-se a morrer aos nossos olhos, naquela manhã de 25 de Abril, perante putos sentados nos passeios ao lado de soldados de ‘arma engatilhada’. Por isso, o 25 de Abril foi uma festa, Porém, a 47 anos distância e perante o estado da atual República, só poderemos dizer como o Chico Buarque: Foi bonita a festa, pá, fiquei contente, ainda guardo renitente, um velho cravo para mim. Já murchou a tua festa, pá, mas certamente esqueceu uma semente nalgum canto de jardim.
Procuro não ser ‘bota de elástico’ mas, contrariamente à maioria dos meus ‘camaradas de Abril’, penso que esta República, tal como a I, está acabada, conduziu-nos a um buraco e não tem qualquer capacidade de auto-reforma. Ilya Prigogine diria desta o que ‘disse’ da I. Mas não padece só de um elevado nível de entropia, presente na extrema fragmentação social de uma luta de ‘todos contra todos’, numa guerra civil verbal catastrófica; padece também do anquilosamento de que sofreu o ‘Regime-do-Estado-Novo’. As suas instituições estão tomadas/sequestradas por pequenos grupos (partidários, económicos, geoestratégicos ou de ‘interesses’) que falam entre si em circuito fechado. Como diz o Tino de Rans, o Povo está fora disso!
No entanto, a saída não será ‘autoritária’ nem de superexploração ‘neoliberal’, de pôr ‘ordem no quartel’ à Salazar como querem os seus discípulos que há dezenas de anos têm andado caladinhos ou escondidos no PPD, no CDS e, também, no PS, e que, agora, se juntam taticamente no Chega. O tempo não volta atrás! Podem tentar mas serão derrotados, mais estrondosamente que no 25 de Abril. Por isso, bem podem começar já a levar os anéis lá para fora…
A saída (associada eventualmente ao previsível desastre europeu) será Revolucionária, Radicalmente Democrática e Patriótica, de defesa interna da Soberania do Povo e, externa, de Soberania de Portugal. Será Inclusiva e não exclusiva, será Cooperativa e não ‘competitiva’.
Canta a Primavera, pá
Estou contente,
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim!
Viva a Próxima República, o próximo 25 de Abril!