Francisco Rodrigues dos Santos desencadeou mais um conflito interno no CDS-PP, ao apelar ao fim das “portas giratórias” entre o mundo da política e o mundo dos negócios. As declarações foram feitas à margem de um protesto pela retoma dos espetáculos tauromáquicos, no Campo Pequeno, em Lisboa, onde o líder centrista considerou ser “fundamental acabar com as portas giratórias entre a política, os negócios e também a magistratura, porque esta promiscuidade de interesses tem minado e viciado” o sistema, referindo também estar aberto a debater a obrigatoriedade de exclusividade dos deputados e políticos do país. Essa mesma opinião, controversa e criticada internamente, voltou a defender em artigo de opinião em que voltou a defender que “devem ser definitivamente fechadas as portas giratórias entre a política, os negócios e a magistratura”.
Ora, ao mesmo tempo que o líder dos centristas acusa então os conflitos de interesse e as misturas entre a política e os negócios, o próprio Francisco Rodrigues dos Santos surge como consultor no website da VCA – Valadas Coriel & Associados, uma “sociedade ‘boutique’ que presta assessoria em todas as áreas do Direito”, como a mesma se define. O cargo surge em 2014, quando ‘Chicão’ não era ainda sequer presidente da Juventude Popular e estava ainda muito longe de chegar à liderança do CDS-PP, e, na página dedicada à apresentação do mesmo, o primeiro parágrafo resume de imediato os vários feitos da sua vida política, seguindo-se depois a sua carreira académica e a sua experiência profissional. Esta realidade, no entanto, foi rapidamente desmentida pelo líder centrista que, ao i, explicou que o facto de surgir no website da VCA se deve a um lapso, já que não tem qualquer ligação a essa sociedade de advogados desde a sua chegada à liderança do CDS-PP, sendo que passou de associado a consultor quando chegou à presidência da Juventude Popular. Mais, Francisco Rodrigues dos Santos assume que nunca propôs a exclusividade dos políticos, mas sim “afirmou estar aberto a um debate futuro sobre a mesma”, o que, segundo defende, implica que, mesmo que trabalhasse para a VCA, isso não entraria em qualquer conflito.
Ainda assim, as declarações sobre a exclusividade política e a presença do líder centrista no site da sociedade de advogados fez estalar polémica dentro do CDS, já que, segundo defendem algumas vozes ouvidas pelo i, ao mesmo tempo que o presidente centrista defende que se deve debater a “exclusividade” dentro do partido – acusando aqueles que “obrigados à exclusividade de funções […] enriquecerem injustificadamente”, e exigindo que “isso tem que ser criminalizado, e a justiça tem que ter meios de investigação que permitam apurar a fonte e a origem desse dinheiro” – ocupava ainda um lugar na lista online de consultores na VCA.
A proposta de debate da exclusividade feita por Francisco Rodrigues dos Santos gerou imediata reação interna, com o líder a ser acusado de “hipocrisia”.
Exclusividade exclui qualidade
A medida de exclusividade pode ser uma barreira para a chegada de novos talentos à vida política, lamenta fonte centrista em declarações ao i, que se queixa do facto de o teor de exclusividade obrigar, em determinadas ocasiões, jovens que se apresentam em início de carreira a ter de escolher entre continuar a sua profissão ou entrar na vida política, sendo-lhes impossibilitado conciliar as duas realidades. A medida proposta por Francisco Rodrigues dos Santos, alerta o centrista, “favorece os medíocres e o carreirismo político”.