Daqui a uma semana completam-se dois meses desde o início do desconfinamento e Portugal continua a estar entre os países europeus com uma situação epidemiológica mais controlada. O relatório semanal do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, disponibilizado ontem, mostra que mesmo em relação aos dados usados pelo Governo no Conselho de Ministros desta semana, continua a haver uma redução do índice de transmissão, que entre 28 de abril e 2 de maio – o último período avaliado e que já abrange assim a terceira etapa do desconfinamento – baixou para 0,92. A tendência decrescente de casos verifica-se agora em todas as regiões do país, inclusive no Norte, onde o RT se manteve acima de 1 mais algum tempo.
No Conselho de Ministros desta semana, o Governo decidiu apenas recuar no desconfinamento total no concelho de Cabeceiras de Basto, entre os 27 que tinham ficado pré-sinalizados. Manteve a cerca sanitária em duas freguesias de Odemira e outros três concelhos não avançaram no desconfinamento. Em Paredes, tal como acontecerá agora de novo em Cabeceiras de Basto, continuam a aplicar-se as regras de 19 de abril, com fecho de restaurantes, cafés e pastelarias ao fim de semana. As medidas mais apertadas, além das freguesias de Odemira sinalizadas, incidem em Carregal do Sal e Resende, que continuam com as regras de 5 de abril e não podem ter abertas lojas com mais de 200 m2, feiras e mercados não alimentares, além também do fecho ao fim de semana à tarde.
A situação volta a ser avaliada na próxima semana e ficam de pré-aviso 23 concelhos que esta semana estavam com mais de 120 casos por 100 mil habitantes: Alpiarça, Alvaiázere, Arganil, Beja, Castelo de Paiva, Coruche, Fafe, Figueiró dos Vinhos, Fornos de Algodres, Golegã, Lagos, Lamego. Melgaço, Oliveira do Hospital, Paços de Ferreira, Penafiel, Peniche, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Santa Comba Dão, Tábua, Vale de Cambra e Vidigueira.
Após Odemira e Cabeceiras de Basto, agora Arganil
Como já tinha acontecido na semana passada, só ontem foram publicados os dados por município que serviram de base à avaliação do Governo na quinta-feira. Os dados divulgados pela Direção Geral da Saúde (DGS)_mostram que, se há uma semana Cabeceiras de Basto e Odemira eram os concelhos com maior incidência de casos por 100 mil habitantes, agora Arganil é o município que regista maior incidência. À TSF, o autarca revelou que já está a contar com um passo atrás no desconfinamento na próxima semana e que se trata de casos em contexto familiar, não tendo ficado claro por que motivo não foram implementadas medidas dado que este município já integrava o grupo de 27 concelho sue tinha ficado de pré-aviso para a avaliação desta semana.
Em segundo lugar continua a estar Cabeceiras de Basto, embora com uma melhor situação epidemiológica do que na semana passada. Seguem-se Lamego e Oliveira do Hospital, Resende, Tábua e só por fim Odemira, que baixou de uma incidência cumulativa de 562 casos por 100 mil habitantes para 227 nesta. Segundo a informação disponibilizada pela autarquia, há agora apenas 41 casos ativos no concelho, quando chegaram a ser mais de uma centena.
Em todo o país há, segundo a DGS, há 22 421 casos ativos de covid-19, pelo que apenas uma pequena minoria se referem a este concelho que tem estado no foco das atenções devido ao impasse em torno do alojamento dos trabalhadores migrantes e que além disso tem mais habitantes do que os que entram nas estimativas da população, o que distorce o cálculo da incidência por 100 mil habitantes. Segundo as estimativas de população do INE, Odemira tem 24 mil habitantes mas de acordo com o município acrescem 10 mil imigrantes.
Os dados da incidência por concelho divulgados pela DGS mostram que a região de Lisboa continua a ter uma situação epidemiológica mais controlada do que o Norte, sendo Lisboa e Norte comparáveis em termos de população, mas note-se que agora o município de Lisboa já está com uma incidência cumulativa ligeiramente superior ao Porto.
Até aqui, a situação tem sido ainda assim diferente da do ano passado. Quando principiou o desconfinamento e nos primeiros dois meses, foi precisamente em Lisboa que começou a haver um recrudescimento da epidemia, em especial em zonas urbanas, na altura também associado a sobrelotação nas habitações e condições de transporte de trabalhadores precários. Recorde-se os surtos na Azambuja e também uma incidência mais elevada nas freguesias urbanas de Sintra.
Lisboa regista uma incidência de 67 casos por 100 mil habitantes, Sintra de 44 casos por 100 mil habitantes a 14 dias – até abaixo da média nacional. Amadora e Odivelas estão também nesse patamar e Loures está mesmo com uma incidência a 14 dias de 25 casos por 100 mil habitantes. O Porto está com uma incidência de 55 casos por 100 mil habitantes e os concelhos com mais casos têm sido Paredes e Paços de Ferreira, acima da linha vermelha
O país fez menos testes esta semana e na anterior do que naquela em que arrancou a terceira etapa do desconfinamento, mas segundo as comparações do ECDC mantém-se mais ou menos a meio da tabela em termos de testagem por 100 mil habitantes, com uma positividade muito baixa, o que indicia uma malha de deteção de casos apertada.
A nível europeu, as projeções do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças foram esta semana mais otimistas. Apontam para uma redução de casos até ao final do mês, dos 3500 semanais para perto de 2400. Na última semana, já só foram diagnosticados cerca de 2800 casos no país, mas também houve menos testes do que na semana anterior (-36%). Na próxima semana, as atenções estarão centradas em Fátima, onde a DGS tem estado a apoiar a realização da peregrinação de Maio, que teve autorização para mais 1500 peregrinos do que os 6000 de lotação máxima de outubro do ano passado. Já para 21, 22 e 23 de maio está marcada a edição 2021 do Rali de Portugal, que terá também público, com provas em alguns dos concelhos que agora estão sinalizados, como Cabeceiras de Baixo e Arganil.