A Groundforce viu negados todos e quaisquer apoios públicos para enfrentar a crise que se instalou na aviação, desde março de 2020, na sequência da pandemia; e agora, a parte privada da empresa de handling do grupo TAP, detida pela Pasogal de Alfredo Casimiro (com 50,1% do capital), está prestes a cair nas mãos de uma empresa estrangeira – a belga Aviapartner – que, ao contrário do que aconteceu em Portugal, recebeu auxílio estatal por parte do Governo da Bélgica para sobreviver ao colapso da atividade no setor.
Os apelos de Alfredo Casimiro nunca obtiveram qualquer resposta: Governo, TAP, Banco de Fomento, Montepio e ANA – Aeroportos de Portugal foram fazendo “ouvidos moucos” ao anúncio de falta de liquidez para pagar salários e impostos – a ajuda de Governo e TAP nunca chegou; o Montepio executou o penhor sobre as ações da Pasogal; e a ANA exigiu o pagamento imediato das dívidas.
A Casimiro nada lhe valeu. Nem mesmo os resultados positivos entre 2012 e 2019, período em que passou a liderar a empresa, somando lucros de 28,8 milhões, contra prejuízos de 151,6 milhões ao longo dos cinco anos anteriores de gestão pública. O próprio ministro Pedro Nuno Santos engrossou a voz durante as negociações, vincando os desencontros entre as partes: “Não é sério”, chegou a dizer de Alfredo Casimiro. O cerco foi-se apertando.
Belgas receberam 25 milhões Esgotadas as soluções, o presidente da Groundforce e líder da Pasogal admitu agora, publicamente e pela primeira vez, disponibilidade para vender a sua participação na empresa de gestão de bagagens.
O processo está em andamento, com parceiro escolhido e contratado, como anunciou, no passado sábado, Alfredo Casimiro em comunicado: “No seguimento das várias questões que nos foram colocadas sobre a disponibilidade da Pasogal para vender a sua participação de 50,1 % na Groundforce, venho confirmar que contratamos o Banco Nomura para nos assessorarem no processo de venda.”
Na linha da frente, estão os belgas da Aviapartner. Embora a crise no setor da aviação não tenha poupado ninguém, a empresa de handling que opera no aeroporto de Bruxelas-Zaventem contou, nesta fase, com o apoio estatal do Governo de Bruxelas: a injeção de 25 milhões de euros teve uma aval da Comissão Europeia, e foi justificada com o facto de uma “falha da Aviapartner poder provocar uma maior perturbação na economia e conectividade belga” – uma estratégia oposta à do Governo português.
A Aviapartner não só sobreviveu como está a olhar para o investimento noutros mercados. “Não posso deixar, no entanto, de manifestar a minha perplexidade e consternação pela diferença de tratamento que o mesmo problema mereceu por parte dos governos dos dois países: enquanto a Bélgica apoiou as suas empresas, em Portugal a Groundforce viu chumbados todos os pedidos de auxílio que dirigiu a várias entidades, tendo o próprio Estado liderado esse veto, mesmo reconhecendo estar em causa a única empresa do grupo TAP que deu lucro nos últimos anos”, lamentou Alfredo Casimiro.