Faz precisamente este sábado três anos que vimos até à exaustão as imagens de cinco dezenas de encapuzados a invadir a academia do Sporting. A anormalidade da situação deixava-nos compreensivos com São Tomé e, mesmo para quem (re)via as imagens, vezes e vezes sem conta, continuava a ser difícil de acreditar no sucedido. O clube de Alvalade – que já não ia propriamente de vento em popa – anexava assim ao currículo o episódio mais negro da sua história, bem como do futebol português. Com o clube mergulhado numa depressão dentro e fora de campo, Frederico Varandas assumiu o comando nas eleições de setembro de 2018: na era do ex-diretor clínico dos leões, Rúben Amorim tornou-se o sexto treinador do clube (depois das saídas de José Peseiro, Marcel Keizer, Jorge Silas e dos técnicos interinos Tiago Fernandes e Leonel Pontes). A chegada de Amorim aos leões tinha quase tudo para ser discreta, mesmo com a época brilhante que vinha a apresentar no Sporting de Braga, mas os 10 milhões de euros fixados na cláusula de rescisão tornaram-se à data motivo de piada fácil, com o próprio jovem técnico a mostrar a sua perplexidade e inocência na conferência de imprensa de apresentação: «10 milhões de euros era o valor que tinha na cláusula, quando o pusemos comecei-me a rir: quem iria pagar isto por mim?».
Era março de 2020. Passou pouco mais de um ano. Longe de ter sido sempre um mar de rosas – com o falhanço europeu a ser o principal contratempo nesta aventura – Rúben Amorim conquistou, contra todas as expetativas, o 19.º título de campeão nacional para o Sporting, 19 anos depois do último troféu alcançado pelos leões na competição.
Varandas validou de forma certeira a sua aposta em Amorim, que a cada jornada foi tirando os números certos desta tômbola leonina. Afinal, a sorte grande também pode ser conquistada sem estrelas.