Representas desde muito novo. Como é que foste parar a esse mundo? Foi através de um casting, na altura na Feira Popular, tinha 10 anos, e no meio de 20 mil pessoas fui um dos 10 selecionados para voltar a fazer o casting para a novela Amanhecer. Tive a sorte de entrar, não conhecia ninguém e foi realmente sorte. A partir daí, fui fazendo mais trabalhos e continuei sempre.
Como era quando andavas na escola, em termos da relação que tinhas com as outras crianças? Sempre foi um processo normal, eles já me conheciam e, portanto, foi sempre algo ‘normal’. Obviamente que falavam do facto de eu aparecer na televisão e brincavam com isso, mas eu sempre levei tudo de uma forma muito suave, nunca me fez confusão, também porque toda a gente sempre me apoiou. Ao início, a exposição que tive foi complicada, porque foi de um dia para o outro e no dia-a-dia acabou por me incomodar um pouco e por afetar as pequenas coisas que eu fazia, como saídas com os meus pais, tornei-me mais reservado. Mas foi uma questão de tempo até aprender a lidar com essa exposição.
Ter essa responsabilidade desde tão cedo fez-te crescer mais rápido do que as outras crianças? Sim, sem dúvida, especialmente porque fui lidando sempre com pessoas mais velhas. Todos os que me rodeavam no trabalho eram mais velhos do que eu e isso obrigou-me a crescer mais rápido, mas é algo que eu agradeço, porque foi um processo muito importante para mim.
O reconhecimento que tinhas dificultou de algum modo a tua adolescência e o processo de criar laços? Não, em momento algum senti isso, foi tudo muito natural. As pessoas que estavam à minha volta ajudaram-me bastante e apoiaram-me. Os meus amigos gostavam de me ver e nunca senti nenhum tipo de pressão ou incómodo nesse sentido. Na escola sempre fiz todos os anos sem chumbar e fluiu sempre tudo muito bem.
Sempre quiseste ser ator? Nunca te passou pela cabeça seguir outra carreira? Na verdade eu nunca ambicionei ser ator. Quando comecei a ir aos castings e a entrar em projetos é que fui aprendendo cada vez mais e ganhando cada vez mais vontade. Eu só comecei a descobrir esta paixão quando já representava, mas neste momento tenho a plena certeza de que representar é o que quero fazer sempre, sou muito feliz na minha profissão.
Antes de descobrires essa paixão, o que ambicionavas ser? Eu jogava futebol, como a maioria dos rapazes, mas também não sabia ao certo se era isso que queria. Gostava, tal como ainda gosto, imenso de animais e ponderei fazer algo relacionado com isso. Mais tarde, descobri a psicologia, que, apesar de eu não saber, sempre me encantou, mas também não segui. No entanto, sinto que através do meu trabalho consigo lidar com a psicologia, através das personagens que vou fazendo, mas tenho pena de nunca ter estudado a fundo.
Foste um dos protagonistas da série da RTP "Até que a vida nos separe". Identificavas-te com o Marco? Quase nada. Ele é dos personagens mais diferentes que já fiz em relação a mim próprio e foi um bocadinho complicado nesse sentido. Ele era uma pessoa bastante reservada, eu sou mas não tanto, e todo o processo social para ele era bastante complicado, fechava-se bastante no seio familiar e só tinha um ou dois amigos virtuais. A orientação sexual dele constitui uma característica que eu nunca tinha explorado e isso obrigou-me a falar com uma psicóloga para tentar compreender melhor o que ele sentia e o que o motivava.
Costumas acompanhar os projetos que fazes enquanto eles estão a passar na televisão? Eu confesso que é muito raro. Quando faço séries tento acompanhar, porque como é só uma vez por semana e um número de episódios mais pequeno é mais fácil, no que toca às novelas tento ver no início e depois vejo quando consigo. Acho que é importante fazê-lo para evoluirmos enquanto atores.
Já participaste em muitos projetos, desde telenovelas a séries e programas de humor. Onde te sentes mais confortável? Na verdade, e isto é mesmo sentido, eu sinto-me à vontade enquanto faço, mas nunca me sinto completamente à vontade em nenhum registo, porque acho que são todos muito difíceis. Tenho tido a sorte de poder fazer um pouco de tudo, ultimamente mais comédia se calhar, que acredito que seja o registo mais complicado porque não é fácil fazer rir.
Visto que estás desde muito novo no meio da representação, sentes que as pessoas de quem te rodeias fazem o mesmo que tu ou mantens amizades da escola, por exemplo?
Eu sempre mantive o mesmo grupo de amigos, não tenho muitos mas os que tenho mantiveram-se desde pequeno. Dentro do meio tenho alguns, mas muito poucos, e por isso diria que lido mais com pessoas que não são do meio.
Achas que isso te ajuda a manter os pés na terra? Sim. creio que acaba por ajudar porque faz que com eu não me foque só no meio artistico, quando acaba o dia de gravações consigo voltar à minha vida “normal” e aproximar-me das pessoas que gosto e que não têm necessariamente de ser aquelas com quem trabalho. Mas, por norma, lido bem com toda a gente apesar de considerar poucos os amigos que tenho.
Que características tens que achas que facilitam o teu trabalho enquanto ator? Acho que ser um bom ouvinte é muito importante porque aprendo imenso e tento dar uso a essa característica em todos os projetos que faço, tentar absorver o máximo de todas as pessoas que envolvem, desde os atores aos técnicos, aprendo com cada um deles. Acho que a chave para eu ter aprendido sempre cada vez mais foi ouvir. Até a representar é muito importante ouvir, não só falar. Manter os pés no chão é também super importante porque é importante lembrarmo-nos de que as coisas são passageiras, às vezes estamos no auge e outras vezes nem tanto e por isso acho muito importante mantermo-nos fiéis a nós mesmos e àquilo que somos, é esse o segredo para não te deixares deslumbrar.
Se tivesses de escolher um só projeto que te marcou, o que escolhias? Eu gostei muito de fazer a série Sim,Chef!, na RTP, era uma equipa muito pequena e davamo-nos todos muito bem, essa deve ter sido a série que mais gostei de fazer. Gostei muito de fazer a novela Coração D’Ouro, porque me senti muito apoiado por pessoas que admirava e de quem gostava e cada vez mais dou valor à importância de trabalhar com pessoas de que gosto porque facilita logo metade do trabalho.
Passados quinze anos de teres feito os Morangos Com Açúcar ainda te reconhecem como o “Dani dos Morangos”? Sim, esse acabou por ser o projeto que mais me marcou em relação ao público. Ainda hoje há pessoas que identificam o Dani, até mesmo crianças que na altura não eram nascidas e viram nas repetições que têm estado a dar. É interessante por aí, por saber que foi dos projetos mais marcantes da ficção, que marcou várias gerações e sentir que fiz parte dessa história é muito bom. É muito sentirmo-nos acarinhados pelas pessoas que vêm.
Achas que estás a conseguir? Eu, pelo menos, tento e não é por falta de profissionalismo. Acho que sou bastante profissional e dedico-me a 100% a um projeto quando entro nele e, portanto, acho que sim, tenho tido a sorte de conseguir fazer alguns personagens diferentes.