Chegou-me uma notícia às mãos que me deixou de boca aberta. Depois da batalha que um pobre homem do norte teve com a escola e com o Ministério da Educação e com os tribunais e o diabo a sete por causa de uma dita disciplina de cidadania, não é que afinal agora há pais ateus a darem razão àqueles que estão a proibir os seus filhos de assistirem às ditas aulas.
Parece que a tal disciplina não tem pés por onde se lhe pegue e deixa ao critério dos professores o que bem lhes apraz e talvez seja esse o problema. Não há conteúdos programáticos claros e específicos que permitam os pais dos alunos avaliarem o que será inculcado aos seus filhos.
Parece que agora, segundo reza a notícia, foi «aberto um inquérito a uma professora de inglês que fala sobre religião cristã nas aulas». Bom, isso é de louvar, porque em inglês tem de falar inglês, aprender gramática e não é para se falar de religião. Por isso, os meninos nunca saberão que Christ significa Cristo em inglês, porque vai contra a laicidade.
Mas há uma grande baralhada, porque não se sabe, ao certo, quando é que a dita cuja professora falou sobre Jesus Cristo. Imagine-se que a mesma professora é diretora de turma e, portanto, diz a notícia, docente de Formação Cívica. E aqui é que começa a baralhar-se tudo!
Uma confusão pegada! E não sei se a confusão é da professora ou dos pais ou dos alunos ou do jornalista que escreveu a peça. Nós sabemos que a senhora é professora de inglês e se mandou conjugar o verbo ‘crucificar’ no past participle é da sua competência, porque está a dar aula de inglês. É uma parvoíce, mas estaria dentro das suas competências.
Mas a confusão não é tanto dos conteúdos de inglês, cujos exemplos que vinham apresentados na notícia são pura parvoíce de um professor que quer falar de Cristo sem saber como – imagine-se que, segundo a notícia, vai falar do sangue de Jesus derramado por nosso amor a partir da cor da bandelete que está na cabeça de uma aluna. No mínimo, isto é o cúmulo da estupidez.
Mas a grande confusão da notícia ou da professora ou dos alunos ou dos pais é que não sabemos se ela estava a dar estes conteúdos deploráveis da religião enquanto professora de inglês ou enquanto diretora de turma ou enquanto responsável pela disciplina de cidadania. E isso é um escândalo!
A meu ver os pais têm toda a razão de se escandalizarem quando uma professora de educação cívica ou de inglês fala sobre a religião (claro que se for o professor de História a dizer mal do cristianismo já terá sempre uma certa desculpa).
É um escândalo, a meu ver, porque a escola existe para ensinar as crianças a ler, a escrever, a fazer contas, a relacionar as ideias, a desenvolver conhecimentos e não para este ou qualquer outro tipo de ideologia que não tem a ver com a missão da escola. É verdade! Esta senhora não deveria – nunca – dirigir-se às crianças nos termos que são descritos pelo jornalista que escreveu aquela notícia.
Ficaram escandalizados por se ouvir falar de religião em aulas de inglês e de educação cívica, não ficaram? Pois aprendam o que sofrem os pais católicos quando ouvem os seus filhos chegar a casa e explicar as coisas que aprenderam naquelas aulas e que nem lembra ao diabo dizê-las.
É melhor que se deixe de endoutrinar as crianças nas lutas ideológicas dos adultos e se comece a apostar no que realmente importa – aprender a ler, a escrever, a contar, a relacionar ideias, porque chegam ao 12.º ano sem saber nada disso e é na escola que têm de aprender!