Ainda não se sabe ao certo como vão ser os Santos Populares em Lisboa, agora com o concelho na lista de municípios em alerta e em risco de ter regras mais restritas por causa da subida de casos de covid-19, mas se associações já não contavam com as marchas, as rédea solta para a final da Champions a Norte fez crescer a indignação. Um responsável do Sporting Clube da Penha, entidade responsável pela organização da marcha popular da Penha de França, partilha o seu ponto de vista.
“Tinha de haver um equilíbrio maior nas regras porque, a determinada altura, não há clarificação da mensagem transmitida”, começa por referir, pedindo para não ser identificado. “O processo das marchas é efetivamente mais complexo do que um dia de Liga dos Campeões. Para as fazermos, teríamos de ensaiar durante três meses, por exemplo, e, na verdade, estávamos num período muito crítico da pandemia”, reconhece, considerando no entanto que “esta situação é uma dualidade de critérios” e que falta “clareza” na comunicação política.
“Poderia haver alguma abertura para que pudesse acontecer um pequeno espetáculo, por exemplo. Isto é tudo muito difícil. Ninguém gosta de ver imagens daquelas [desacatos provocados pela celebração da Champions] na televisão. Também gostávamos de ter a mesma oportunidade”, desabafa este responsável, admitindo todavia que não são situações totalmente equiparáveis. “Se as marchas acontecessem num único dia, é evidente que não entenderia porque é que havia uma e não outra”, porém “como este processo obedece a muitos meses de trabalho”, entende a diferença.
Iniciativa Liberal desafia CML Apesar da Câmara Municipal de Lisboa (CML) ainda não ter confirmado se vai permitir festejos dos Santos Populares, a Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou à RTP, neste domingo, que a autarquia ainda não entregou nenhum plano de contingência para as festas da cidade.
Já a Iniciativa Liberal vai avançar com a festa. Em comunicado, o partido afirmou que “perante o cancelamento por parte da CML do tradicional desfile das marchas na Avenida da Liberdade, o candidato da Iniciativa Liberal”, isto é, o professor universitário Bruno Horta Soares, “desafia Fernando Medina a usar esta espaçosa rua para que os lisboetas possam celebrar os Santos Populares em segurança e anuncia que a IL irá organizar o seu próprio arraial” na zona de Santos.
“Esperamos marchar em 2022” Apesar da “celeuma” gerada, o responsável da marcha da Penha de França calcula que “até para as próprias autoridades seja complicado atuar em determinados contextos” e, nesse sentido, partilha que está crente de que “esta situação tem mais a ver com o governo central do que com as autarquias”, ainda que percecione que “é difícil controlar os movimentos das massas” e “não é fácil para quem decide ter a balança equilibrada”. Contudo, não esconde o desalento: depois de um ”esforço tremendo”, ver as celebrações na Invicta “foi desagradável”.
Mantendo o otimismo, acredita que a vacinação irá devolver a “vida normal” da cidade. “Esperamos marchar e conviver em 2022. Já estamos parados há dois anos”, realça, explicitando que o Sporting Clube da Penha ainda não recebeu a verba atribuída pela CML, todavia já foi informado dessa intenção. “Acreditamos que tal acontecerá porque não temos nada a apontar à câmara”, diz. Em causa os apoios prometidos pela autarquia no início do mês, quando anunciou o cancelamento do concurso das Marchas Populares de 2021 devido à covid-19. Para compensar o impacto económico da não realização do evento, a câmara comprometeu-se em apoiar em 15 mil euros cada entidade organizadora.
“A CML está ciente do impacto não apenas económico, mas também social e emocional, nas famílias e comunidades diretamente envolvidas, que provoca a não realização deste momento ímpar na vida cultural da cidade”, referiu na altura a autarquia em comunicado.
E no Porto? No Porto, os planos para o São João já são conhecidos. O Presidente da Câmara do Porto anunciou que haverá três zonas de diversões, ainda que sem concertos e fogo-de-artifício. O autarca defende que as medidas adotadas para os festejos são importantes tanto para os setores que estão parados há muito tempo, como para as famílias. “Como é que as pessoas vão andar? Não faço ideia. E quando houver ajuntamentos? Se é a PSP que tem de intervir, que intervenha. Não me peçam para dizer o que vai suceder ou não. Lembro-me que no ano passado as pessoas ficaram basicamente em casa, acho que este ano vai haver mais pessoas na rua”, declarou Rui Moreira à Lusa.