O desconfinamento vai sendo feito mas há quem não saiba o que é receber público há quase 15 meses, desde 8 de março de 2020. Falamos do setor da animação noturna, que ainda não tem data para abrir, o que está a deixar os empresários do ramo cada vez mais desesperados. A reabertura destes espaços continua a estar em cima da mesa mas, para já, ninguém se quer comprometer com datas. E uma coisa parece certa: para já, as pistas de dança estão fora de questão.
No sentido de se perceber o que se pode fazer daqui para a frente, representantes das secretarias de Estado da Saúde e da Economia e da Direção-Geral de Saúde ouviram a Associação Nacional de Discotecas, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) e da Circuito.
As conclusões não surgiram mas José Gouveia, presidente da Associação Nacional de Discotecas, entende que isso era inevitável. “Não houve qualquer tipo de compromisso nem pode haver. E nós entendemos. Foi uma reunião que agradecemos porque nos estão a dar voz e ouvidos”, disse José Gouveia ao i, acrescentando que, para os responsáveis, “isso é muito importante”, até porque se sentiram “abandonados” durante muito tempo, embora sempre acompanhados pelo secretário de Estado João Torres.
José Gouveia garante ainda que se está a trabalhar “no sentido de criar condições para, efetivamente podermos, no futuro, fazer o desconfinamento da industria da noite”. E nota que “o Governo tem agido de forma cautelosa para que não se criem falsas expectativas” aos empresários.
Quanto às propostas apresentadas, foram “as mesmas que têm sido sempre”. “Queremos abrir, ver o alargamento dos horários, queremos ver os espaços ao ar livre abertos. Para já, numa primeira fase, os pequenos bares”, disse José Gouveia, acrescentando que agora é preciso ver os pareceres dos especialistas, do Governo e perceber o que pode decidir o Conselho de Ministros “inclusive depois da reunião do Infarmed onde houve especialistas que defenderam exatamente isto”.
O que é defendido? Tal como avançou o Nascer do SOL na edição do último fim de semana, a equipa que apresentou ao Governo o plano de continuidade para o desconfinamento defende que o que se propõe para o setor da restauração possa ser aplicado a um bar. “Para os três níveis, propomos um conjunto de regras gerais: estar sentado à mesa, cumprimento de distanciamento entre mesas de 2 metros, medidas de distanciamento em função de um número de pessoas por metro quadrado e a utilização obrigatória de máscara exceto no momento da refeição”, explicou a médica e ex-secretária de Estado Raquel Duarte, autora do plano de desconfinamento. “Um bar que funcione assim, em que as pessoas estejam sentadas, enquadra-se perfeitamente. Não distinguimos os setores, o que recomendamos são medidas gerais. Quando se diz máscara até ao momento da refeição, pode ser a refeição ou beber um copo”, acrescentou a responsável.
No entanto, no que diz respeito às discotecas, o parecer é negativo: “O que não recomendamos são situações em que as pessoas deambulem de um lado para o outro”, diz Raquel Duarte. Até porque estes “são locais onde o risco de transmissão é muito grande”. E explica as diferenças: “Um local onde uma pessoa vai ouvir música, beber uma bebida, fica sentada distanciada da outra mesa, é diferente de um sítio onde há grandes aglomerações, as pessoas estão a beber, deixa de haver distanciamento”. Por isso, a equipa é contra a abertura de espaços com pista de dança. Com este plano nas mãos, o Governo terá de decidir o que aplica e quando. O estado de calamidade vigora até 13 de junho.
As pistas de dança No que diz respeito às discotecas, José Gouveia entende não haver problema se forem ao ar livre. “Entendo que esta deve ser a fase footloose, onde é proibido dançar. Está tudo à volta disto. Ontem, na reunião, mencionei este facto: estamos a proibir as pessoas de dançar. Acho que não faz sentido as pessoas não poderem entrar dentro de um espaço, sentarem-se, beberem um copo, divertirem-se à volta da mesa e estarmos a pensar que a única coisa que distingue um restaurante de um bar ou de uma discoteca passa a ser somente a presença ou não de comida”, defendeu ao i José Gouveia.
Por isso, aquilo que foi apresentado na reunião de segunda-feira foram propostas que responsabilizam o operador, o empresário e o espaço para “que os seus clientes não possam, de facto, estar em pé a dançar, que circulem de máscara, aliás que estejam de máscara sempre que possível a não ser o tempo de consumo, até nós atingirmos os números de vacinação que são pretendidos, que cheguemos à imunidade de grupo”. Mas não há dúvidas: “Não podemos é estrangular esta economia e temos que perceber que todos os dias há uma empresa que fecha, ou pelo menos todos os dias há um empresário que está a ponderar manter aberta ou não a sua empresa. Todos os dias contam e é certo que estamos já no último mês do segundo trimestre de 2021”.
José Gouveia defende ainda que as pessoas precisam de sair e de socializar. “Ir a um bar beber um copo, falar com os amigos, ou mesmo estar numa discoteca a ouvir música… Se neste momento tiver que haver a abolição das pistas de dança, pronto, então que haja abolição das pistas de dança. Mas que se dê um passo em frente”, atira.
Empresários aflitos Ao longo deste meses, são vários os apelos que os empresários do setor têm feito à Associação Nacional de Discotecas. “Por favor, deixem-nos abrir. Por favor, deixem-nos trabalhar. Por favor, ajudem-nos financeiramente” são os apelos mais ouvidos. No fundo, que lhes “indiquem o caminho”. José Gouveia garante que os empresários estão muito empenhados no seu negócio e não tem dúvidas que, se fosse hoje, muitos tinham recorrido ao despedimento coletivo, encerrado as suas empresas e teriam continuado a sua vida noutro sentido. “A esperança dos empresários é que amanhã haja uma notícia que lhes dê alento para continuar”, diz o responsável, garantindo que depois da reunião ter terminado, recebeu várias chamadas e mensagens de empresários. “E a mensagem que lhes deixei foi que não tinha nada de diferente para lhes dizer”.
Quanto às perdas do início da pandemia, é perentório: 100%. “É um investimento contínuo na manutenção dos espaços na esperança de poderem abrir. Há neste momento empresários que estão a investir na esperança de daqui a um, dois meses poderem abrir. É uma resiliência quase ‘lunática’, porque nunca desistiram”, garante.