Por Alexandre Faria
Escritor, advogado e presidente do Estoril Praia
Os nossos tempos exigem, cada vez mais, que se inverta a relação entre quem elege e quem executa os mandatos que recebe, num processo contínuo de alteração de mentalidades. Uma vez ultrapassadas as principais preocupações relativas à implantação dos sistemas políticos, a permanente construção da democracia exige uma maior aproximação da sociedade às decisões que se tomam, incentivando a reciprocidade.
Ao encorajar uma maior participação dos cidadãos nas decisões públicas e na gestão do espaço público, permitindo-lhes um lugar ativo no debate e na partilha da prossecução dos objetivos traçados, fica também assegurada uma informação mais eficaz sobre as decisões locais, ou seja, uma simbiose saudável entre a Idealpolitik e a Realpolitik.
A proximidade entre eleitores e eleitos ao nível local tem tradições remotas, recuando até aos town hall meetings do século XVII da história colonial nos Estados Unidos da América, e o seu legado, assim como as suas verdadeiras intenções, não podem deixar de ser ainda hoje considerados.
A possibilidade de esclarecimentos concretos que esta forma de realizar a política possui, garantindo cabais explicações sobre opções orçamentais, constitui a mais pura relação com os eleitores, superando pela verdade diversas instrumentalizações disfarçadas de participações populares.
Também não se confunde com as discussões manipuladas e sem filtros que ocorrem no ciberespaço, onde prolifera uma irrealidade contaminada por quem ostenta o maior número de perfis falsos. Para a formação de uma opinião, construída na verdadeira consciência de um grupo que se identifica perante uma identidade comum, o formato Hillsborough, onde um candidato enfrenta um painel de cidadãos, respondendo diretamente às suas questões, confere maior segurança em termos de comunicação política e de troca de ideias.
Um dos maiores desafios colocados a um eleito assenta na transparência da sua gestão, perante a certeza da regular realização, pública e interpessoal, de prestação de contas aos seus cidadãos e na garantia de que a participação cívica dos eleitores será estimulada e incentivada durante o seu mandato, na essência da delegação de confiança no futuro que recebeu.