Por tradição, a véspera do dia de Santo António é comemorada em Lisboa com animação, bailes ao ar livre, sardinhas assadas, muita cerveja e até alguns excessos. Bairro Alto, Alfama, Mouraria e Miradouro de Santa Luzia são alguns dos locais de eleição, mas os festejos multiplicam-se um pouco por toda a capital. O ano passado, devido à pandemia, fugiu à regra, sem sardinhas, nem marchas, nem bailaricos, e este ano segue o mesmo caminho.
O Sr. Almeida, proprietário do Solar de São Cristóvão, bem perto do Castelo de S. Jorge, por exemplo, nem abriu o restaurante entre sexta-feira e domingo. Dada a impossibilidade de assar sardinhas no exterior, considerou que não valia a pena dar-se a esse trabalho.
De resto, até os fogareiros na rua – onde os populares costumavam assar sardinhas, chouriços e febras – estão proibidos. Este é considerado pelas autoridades um evento «de muito alto risco», pelo que a PSP vai estar até dia 13 a fazer um controlo apertado da capital, em especial das zonas que costumam ser mais movimentadas em termos de animação noturna, como o Bairro Alto, o Cais do Sodré e a Avenida 24 de Julho. Uma das prioridades está a ser o controlo do consumo de bebidas alcoólicas na via pública, informou Domingues Antunes, superintendente da PSP, acrescentando que a autoridade «não deixará de promover os autos». O responsável sublinhou ainda que até agora «já foram levantados na área metropolitana cerca de 15 mil autos por violação a este regime legal do quadro pandémico, quer de emergência quer de calamidade».
A partir das 19h deste sábado e até às 3h00 de domingo as restrições serão ainda mais apertadas: «Como sabem, os estabelecimentos estão a funcionar até às 22h30, com a tal meia hora de tolerância. Sempre que a polícia encontrar zonas de grande afluência e ajuntamentos vai condicionar o acesso a essa zona através da colocação de grades ou fitas», informou o superintendente.
Há ainda locais aos quais o acesso será limitado, tanto por via pedonal como rodoviária.
É tudo à pala do Medina’
Muitos moradores dos bairros históricos não se conformam com as restrições. Rosa (nome fictício) mora em Alfama e culpa o presidente da Câmara pelo que está a acontecer: «O senhor Medina quer tudo à maneira dele, mas quem manda é o povo e quando o povo quer, quer mesmo».
A idosa afirma sentir que está a viver «como no tempo de Salazar» e que, por isso, os moradores de Alfama se vão «revoltar».
«A polícia queria vir para aqui vedar isto tudo mas eles não sabem com quem se estão a meter, Alfama não é para brincar», disse ao Nascer do SOL.
A vizinha Dora, de 37 anos, aponta também o dedo ao autarca: «Isto que está a acontecer é tudo à pala do Medina, porque a festa do Sporting teve permissão».
As ruas que durante anos se encheram de gente estão este ano vazias, sem sardinhas, cerveja, sangria e «tudo o que é bom e típico português», lamentou Dora. A moradora de Alfama contou-nos que desde que se lembra que tem naquela rua uma «banquinha» onde vendia «sangria e caipirinha» e assava «sardinhas e bifanas».
‘Tudo pode ser feito’?
Recorde-se que a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, disse, no dia 1 de junho, que os portugueses poderiam continuar a divertir-se, a conviver e a «fazer determinados eventos dentro da lei», mas com «contenção».
«Tudo pode ser feito desde que haja contenção», começou por dizer aos jornalistas, num evento que assinalava o Dia Mundial da Criança.
«Se conseguirmos garantir contenção, acho que podemos fazer determinados eventos, dentro da lei, das normas e das orientações que existem. Se não conseguirmos garantir essa contenção, então é preferível abstermo-nos», acrescentou.
A diretora-geral da Saúde lembrou ainda na altura que «há muita gente que não está vacinada», estando «vulnerável», pelo que pede aos portugueses «que se divirtam, que convivam, mas que continuem a ter precauções e, sobretudo, que não corram riscos desnecessários».
«Estamos na fase de ter calma e de aguardar mais uns meses para que possamos exercer em pleno os nossos direitos e as nossas liberdades», sublinhou.
Na passada quinta-feira, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, frisou que não autorizar a realização de arraiais populares era uma decisão que nenhum autarca gostava de tomar, mas «era a única que se impunha», devido aos riscos de disseminação da pandemia. Já no Porto Rui Moreira deu luz verdade para os tradicionais festejos do São João.