Humilhação na praça pública

Não há motivo nenhum que justifique a violência verbal ou física, seja a vítima um Presidente, um primeiro-ministro ou qualquer outro ser humano.

por Filipa Moreira da Cruz

Emmanuel Macron não se vai esquecer tão cedo do dia 8 de junho de 2021. O vídeo da sua agressão deu a volta ao mundo. Damien Tarel, simpatizante da extrema-direita, atingiu em cheio a face do presidente francês. Após o sucedido, o homem de 28 anos, confessou à polícia que agiu sem refletir. Tarde demais, o mal já estava feito. Arrisca-se a três anos de prisão e uma multa de 45.000 euros. O julgamento terá lugar na quinta-feira, apenas dois dias depois do incidente. Quase sempre, a justiça avança a passo de caracol. Mas desta vez, foi mais rápida que o TGV.

Neste momento em que escrevo, a pena ainda não é conhecida, mas espera-se que seja exemplar para evitar que estes episódios se repitam. Não vá isto virar moda! Convém lembrar que não é a primeira vez que um político francês é humilhado em público. Assobios, insultos, cuspidelas, empurrões, cara besuntada com ketchup. Já houve de tudo um pouco e quase ninguém escapou.

Manuel Valls também levou uma chapada em 2017. Em 2011, durante uma visita presidencial, Nicolas Sarkozy foi violentamente empurrado, enquanto saudava um grupo de pessoas na rua. Em 2002, o então primeiro-ministro Lionel Jospin encontrava-se em Rennes, em campanha política para as presidenciais, quando a sua cara foi besuntada de ketchup. No mesmo ano, Jacques Chirac foi alvo de insultos e cuspidelas.

Mas os enxovalhos e as agressões não são apenas made in France. Nem os mais poderosos do mundo são poupados. Em 2008, durante uma conferência de imprensa, George W. Bush escapou por milagre, de um sapato lançado por um jornalista iraquiano. Silvio Berlusconi não teve a mesma sorte. Em 2009, uma estatueta da catedral de Milão desfez-lhe a cara. Até Justin Trudeau, um dos políticos mais cool, levou com ovos durante uma manifestação.

Os políticos pretendem ser ‘normais’, mas raramente agem como tal. Precisam de alimentar o ego constantemente, gostam de exibir-se, apertar mãos, dar beijinhos e abraços, mas esquecem-se que nem todos os veem com bons olhos. Talvez Angela Merkel seja a única exceção. Recusou uma vida faustosa e rodeada de seguranças. Fazia as compras no supermercado do bairro e esperava tranquilamente na fila para pagar. Ah, e o nosso Marcelo também! A sua fotografia a empurrar o carrinho deu a volta ao mundo e a imprensa estrangeira não poupou elogios ao Presidente português.

Ontem um assobio com cuspo, hoje uma bofetada, amanhã um empurrãozinho… Serão estes incidentes contra o poder ou somente uma repugnância em relação ao político em questão? Trata-se apenas de agredir o presidente que se detesta ou será uma ato de revolta contra todo o sistema? Ao atingir-se um presidente, atinge-se de certa forma, a nação porque ele representa o país.

Em pouco tempo, este incidente passou de caricato a quase banal. E as redes sociais não perderam tempo em divulgar vídeos onde o presidente francês é ridicularizado. Hoje em dia, vale tudo! Todos os partidos políticos condenaram a agressão de Macron, como seria de esperar. Não há motivo nenhum que justifique a violência verbal ou física, seja a vítima um presidente, um primeiro-ministro ou qualquer outro ser humano. Só é pena a justiça não ser tão reativa quando se trata do mais comum dos cidadãos.