A secretária de Estado da Administração Interna considerou, esta quinta-feira, que seria “impossível” terminar em quatro anos toda a reforma necessária para a defesa da floresta contra incêndios, assinalando que este processo é “uma maratona” e não “um sprint”.
"É cedo para achar que as mudanças deviam estar todas concluídas, não estão. Estamos a falar de uma maratona e não de um sprint. A próxima década vai ser de grandes desafios para que se consiga levar este navio a bom porto", disse Patrícia Gaspar em entrevista à agência Lusa.
No dia em que se assinalam quatro anos do grande incêndio de Pedrógão Grande, a governante realçou que, desde 2017, o dispositivo de combate a incêndios florestais melhorou e “está mais estabilizado”, foi reforçada a formação para os agentes de proteção civil, existindo também uma diretiva integrada de prevenção e combate e outra nova para a vigilância e deteção.
"Houve muita coisa que já foi feita e ainda há muito para fazer. Seria impossível esperar que este programa de transformação estivesse pronto em quatro anos", observou.
Patrícia Gaspar indicou a importância de “continuar a falar” de Pedrógão Grande como forma de “honrar a memória das vítimas”, para que desastres de tal dimensão não voltem a acontecer.
"Mesmo que se continue a ter no país ocorrências daquela dimensão, porque sabemos que o risco existe, não pode ter aquele impacto", sublinhou.
A secretária de Estado reforçou que “o risco zero nunca vai existir”, ao evidenciar que Portugal vai “sempre ter incêndios enquanto existir floresta”. Segundo Patrícia Gaspar, o grande objetivo é tornar a floresta “cada vez mais resiliente ao fogo e onde há ação de combate tenha que ser cada vez menos expressiva”.
De acordo com a governante, o dispositivo de combate a incêndios está estabilizado a nível de quantidade, uma vez que este ano temos o maior número de operacionais desde 2017, ultrapassando os 12 mil.
Contudo, Patrícia Gaspar considerou que este número não deverá crescer "muito mais nos próximos anos porque este é o dispositivo adequado àquela que é a realidade normal do nosso verão”. Para a governante, “o ponto crítico de sucesso é ter capacidade de flexibilizá-lo em função do risco".
Por isso, "a grande chave é conseguir gerir e flexibilizar este dispositivo em função da realidade que temos no terreno a cada momento", apontou a secretária de Estado.
Para tal, será necessário “antecipadamente reorganizar o dispositivo para que esteja mais forte nas zonas onde seja mais necessário, quer do ponto de vista dos meios terrestres, quer do ponto de vista dos meios aéreos", referiu Patrícia Gaspar.
Depois do horrendo incêndio em 2017, não foi só o sistema que mudou. Os portugueses também alteraram o seu ponto de vista: "Ganharam uma perceção completamente distinta daquilo que são os riscos ou a dimensão de algumas catástrofes", assinalou a secretária de Estado.
No início da tarde de 17 de junho de 2017, Pedrógão Grande foi invadido por um incêndio que consumiu uma grande parte do território, provocando a morte de 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, destruindo cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.