“Provavelmente vamos precisar de vacinar 85% a 90% da população”

Ingleses estimam que R (0) da variante delta é de 7, quase três vezes o do SARS-CoV-2 original. Carmo Gomes defende debate. Dose de reforço está a ser estudada.

Tal como já tinha acontecido com a variante alpha, a conclusão de que a variante delta  é mais transmissível obriga a rever os cálculos de que percentagem da população será necessário vacinar para atingir a ‘imunidade de grupo’. Os 70% já estão descartados há muito, mas agora a resposta mais simples é que parece ser necessário vacinar quase toda a gente. Em Inglaterra, estima-se que o R(0)   da variante indiana seja de 7 – trata-se do potencial de transmissão se não houvesse vacinas, imunidade natural ou medidas em vigor: cada pessoa infetada poderia contagiar 7. É este valor que é usado para calcular o universo de pessoas a vacinar para ter imunidade de grupo, o que dá cerca de 86% da população – quando se fala de 70% nos programas de vacinação tem-se estado a referir apenas a adultos, o que em Portugal corresponde a ter 58% da população vacinada. Entram depois questões como eficácia das vacinas, anticorpos conseguidos pela infeção natural e vacina e a sua duração, tudo ainda em estudo. «Provavelmente se não tivermos 85% a 90% da população vacinada não conseguiremos travar o vírus completamente, o que incluirá também crianças. E aí vamos ter de ter um grande debate, porque há muita gente que acha que as crianças não devem ser vacinadas», diz Manuel Carmo Gomes. O objetivo? «Não podemos falar de erradicar, por que isso seria à escala planetária e só aconteceu com a varíola. Mas continuo a acreditar que podemos fazer eliminações locais e chegar a uma situação em que está tanta gente protegida pela vacinação que o vírus deixa de circular de forma sustentada. Se for introduzido, causa pequenas cadeias de transmissão e morre sozinho». 

A incógnita a esta altura se poderão aparecer variantes mais transmissíveis. «Se nos mantivermos com a transmissibilidade da delta, penso que está ao nosso alcance e somos um país em que seria possível ter este grau de adesão à vacinação», diz o epidemiologista, que admite que o mais provável deverá ser a recomendação de uma dose de reforço a idosos e doentes imunossuprimidos. A questão, avançada por Inglaterra como o Nascer do Sol noticiou há uns meses, está a ser trabalhada pela comissão nacional de vacinação. «Está em cima da mesa e há situações em que a mim, a título pessoal, me parece que seria recomendável. Idealmente, seria melhor se pudéssemos ter já vacinas adaptadas às novas variantes».