por Pedro Ramos
Nova Iorque, junho 2021
Queridas Filhas,
Em 1980 o investigador Ola Svenson perguntou a 161 estudantes universitários americanos e suecos como classificavam as suas capacidades de condução em comparação com a média. 77% dos suecos e 88% dos americanos classificaram-se como condutores «acima da média». Esta impossibilidade, ilustra um bias de ilusão de superioridade que é comum nos humanos. Na vida em geral isso pode levar a situações cómicas sem grande impacto real. Contudo, em investimentos isso pode levar a resultados catastróficos. O exemplo da implosão do fundo Long-Term Capital Management que tinha dois prémios Nobel na sua equipa, ou do fundo Archegos já em 2021 são boas ilustrações do perigo das ilusões de superioridade em investimentos.
Uma área em que quase todos os investidores se consideram acima da média é em visão de longo prazo e paciência. São muito raros os investidores que eu conheço que confessam ser impacientes e com pouca visão de longo prazo. Mas a realidade é que a maioria dos investidores prefere resultados no curto prazo e tem muito pouca paciência para momentos de volatilidade e incerteza.
Isto é importante porque os investidores expressam essas preferências com os seus euros, comprando mais investimentos de curto prazo e baixo risco esperado. Isso leva à subida do custo desses investimentos e consequente redução da sua rentabilidade potencial. Ficam assim poucos investidores com capacidade financeira e emocional para investir em projetos de mais longo prazo e com mais potencial de lucro, mas também com maior exposição a crises dado o horizonte temporal alargado. Estes investidores conseguem fazer os seus investimentos a custos mais baixos. Um baixo preço de investimento leva a um maior retorno e a menor risco de perda de capital.
Em investimentos é muito importante saber que tipo de investidor somos. O pior que pode acontecer, é assumirmos que temos visão de longo prazo, investir e depois vender a preços mais baixos no meio de uma crise por nos assustarmos. Assim não conseguimos levar o investimento até à maturidade e não maximizamos os nossos lucros. Pelo contrário, cristalizamos as nossas perdas no pior momento.
Em outras atividades, os humanos aprendem com a experiência a focar-se no horizonte mais adequado a cada um e a cada atividade. Por exemplo, aprendemos a caminhar a olhar para onde queremos ir, em vez de olhar para os pés. Numa corrida de Fórmula 1 não estamos focados no resultado de uma ou duas voltas. Seguimos sim uma estratégia para a corrida como um todo. No futebol, não avaliamos um campeonato em duas ou três jornadas. Focamos na regularidade e excelência ao longo das mais de trinta jornadas.
Muitas vezes a otimização dos resultados de curto prazo, limita ou até prejudica o potencial de longo prazo. Por exemplo, um corredor de Fórmula 1 pode puxar e atacar em quatro ou cinco voltas, mas isso compromete o estado dos pneus e pode abrir a necessidade de mais uma paragem para troca de pneus do que os rivais e levar a maior perda de tempo do que o ganho nessas voltas agressivas. Uma equipa de futebol pode pôr a mesma equipa e plantel em quatro ou cinco jornadas seguidas e jogar intensivamente, mas isso leva a fatiga, lesões e pouca rodagem de jogadores jovens que serão o futuro do plantel.
Em finanças, no curto prazo a preocupação é manter a liquidez e solvência. Isto permite sobreviver para colher os frutos a longo prazo. Permite ainda ter liquidez suficiente para aproveitar eventuais oportunidades atrativas que choques imprevisíveis (financeiro, geopolítico…) nos tragam. Para investir no longo prazo precisamos de ver para onde vai o mundo, e os desejos e necessidades dos consumidores. Precisamos de uma parceria com uma equipa de gestão capaz de se adaptar a mudanças inesperadas sem perder o foco em oferecer ao cliente uma proposta muito superior ao dos concorrentes.
Investir a longo prazo é como plantar uma floresta. Temos que cuidar do terreno, plantar as melhores sementes, irrigar bem e ter paciência enquanto as árvores crescem. Temos que prevenir secas e incêndios no curto prazo. Mas não devemos perder sono se uma de as árvores morrer ou ficar muito entusiasmado se outra crescer muito rapidamente. O objetivo é ter a floresta mais produtiva no longo prazo e não o que acontece a uma árvore em particular no curto prazo.