Há muitos anos que se fala de um gato vítima de homicídio. Conta-se que a curiosidade era a principal suspeita e que, apesar da ausência de grandes evidências, foi julgada e sentenciada em praça pública. «A curiosidade matou o gato» dizem eles. Acredito que a curiosidade foi incriminada, tornando-se a fachada para crimes conta o nosso desenvolvimento, tanto como indivíduos como sociedade.
Começo a defesa do meu caso com a revisão dos factos do dito acontecimento histórico: existia um gato que teve um final infeliz fruto de se colocar numa circunstância complicada e desnecessária, não tendo tido fuga possível à perda da sua sétima vida.
Ora, retiro das primeiras evidências que a curiosidade não tem cadastro ou histórico homicida, bem pelo contrário. Como se não bastasse, aponta-se o dedo por apenas um gato, não a totalidade da comunidade felina. Assim, posso concluir que, na ausência de um motivo, não faz qualquer sentido ter a curiosidade como principal suspeita.
No passado, a referida virtude foi responsável pelas principais descobertas do Homem, sejam as de inventores e pioneiros como Colombo, Tesla ou outros; sejam aquelas que, frequentemente menosprezadas, fervilham dentro de nós face à família, amigos, profissão e demais interesses.
Tudo começa com uma necessidade que o leitor tem dentro de si. A mesma fá-lo perguntar-se, na interação com uma circunstância, sobre possibilidades e desfechos das suas reações. É certo que, estando disposto a testar, experimentar e aventurar-se por vezes, chegará sempre às respostas que procura (provavelmente acompanhadas de mais perguntas).
Importante é não esquecer que o leitor não precisa de pôr a mão no fogo para saber que queima. Quero com isto dizer-lhe que, apesar de a ausência de julgamento próprio ser positiva, por lhe conferir a liberdade necessária, não é imprescindível a experimentação nos aspetos da sua vida nos quais está certo que não quer mudar.
Consequentemente, parece-me evidente que o gato foi vítima de suicídio involuntário. Primeiramente, pela provável falta de sentido de auto preservação e, em segundo lugar, pela improvável busca de uma resposta numa situação limite como tal.
Quanto aos verdadeiros culpados da incriminação, considero suspeita a zona de conforto, o status quo e o medo. Um trio perigoso e reconhecido por outros estragos na vida do comum mortal. Sem eles, estou certo de que seria evidente a necessidade de fomentar e encorajar, tanto na criança como no adulto, a autonomia que é ser-se capaz de encontrar as respostas, via perseguição das respetivas perguntas e dúvidas.
A qualidade de vida e bem-estar dos nossos mais próximos, tal como o futuro da sociedade, estão diretamente dependentes da qualidade das perguntas e curiosidades daqueles com quem hoje partilhamos o planeta.
Sente que algo não está certo na sua vida!? Porque é que o sente!? Que necessidade é que precisa de ver preenchida para se sentir bem!? A curiosidade nunca matou o gato nem nunca irá matar ninguém. Permitir-se questionar é permitir-se caminhar em frente, na direção do que mais deseja. Alguma pergunta do júri!?