A história do acidente mortal do carro que transportava Eduardo Cabrita na A6 está longe de estar concluída – e cada vez as diferentes versões se tornam mais contraditórias. Acrescentando à triste ironia de um veículo do Ministério da Administração Interna (MAI) vitimar alguém que garantia o funcionamento das rodovias que estão sob a sua tutela, as contradições acumulam-se. A Brisa garante que os trabalhos de manutenção na A6 estavam devidamente sinalizados aquando do desastre. Uma informação que conflitua diretamente com anteriormente avançado pelo MAI, que defendia não haver sinalização e imputou a culpa do sucedido à vitima. Perante o desmentido, Eduardo Cabrita mantém um silêncio ensurdecedor – e nem um empurrãozinho de Marcelo ajudou a quebrar tal postura.
A edição de ontem do Correio da Manhã avançou três informações que fazem adensar as suspeitas: uma suposta “ordem superior” impediu as perícias ao BMW envolvido no sinistro; “nem os titulares da investigação” sabiam do paradeiro da viatura após a sua remoção do local, e esta circulava a 200 km/h. Tais informações foram dadas como factuais até meio da tarde, altura em que um comunicado da GNR desmentiu a maior parte delas: “nunca existiu qualquer ‘ordem superior’ para impedir ou condicionar quaisquer diligências relacionadas com a investigação” – esclareceram. A mesma nota assegurou ainda o normal funcionamento das coisas, ou seja, que a GNR “desenvolveu e encontra-se a desenvolver, nos termos da lei, todas as diligências inerentes a um processo de investigação de um acidente de viação com vítimas mortais”, não prestando todavia mais declarações por a “investigação do acidente se encontrar em curso”. A segunda informação – a do suposto misterioso paradeiro do carro – foi igualmente desmentida pela GNR, que, ao Público, garantiu que o veículo sinistrado está à sua guarda. A última informação foi a única, curiosamente, a não ser alvo de desmentido. Afinal, a que velocidade ia o carro do ministro? 200km/h? Por que razão não divulga o MAI esta informação? Talvez precisamente por ser comprometedora.
Mas há mais: ontem, ao fim da tarde, Rio Rui informou os jornalistas que o carro onde seguia Cabrita nem sequer está “registado” na conservatória, garantindo não estarem previstas exceções legais nesse âmbito, lamentando a “trapalhada” e exigindo “esclarecimentos”.
Reações
Rio foi um dos primeiros a cavalgar o assunto quando foi avançada a notícia – entretanto desmentida – de que a GNR fora impedida de investigar mais além. O social-democrata recorreu ao Twitter para classificar que tal, ao ser confirmado, seria “gravíssimo” e “prova prática de que o carro vinha em excesso de velocidade”. Também Ana Gomes recorreu à mesma plataforma para acusar o MAI de “indecência” por não ter tido logo a “transparência de revelar a que velocidade o carro ia” – uma crítica que, ao contrário da de Rio, envelheceu bem. Dando uma bicada em Costa, Ana Gomes ainda lançou: “Morreu um homem(…) pode morrer de vez a credibilidade de quem nos governa”.