Fim de semana de calor e de restrições: foi assim que se caracterizaram os últimos dias nas praias da Costa da Caparica e da linha de Sintra e Cascais. As regras que até aqui se aplicavam apenas a Sesimbra, Albufeira e Lisboa, afetam agora 19 concelhos, sendo alguns deles conhecidos pelos seus areais.
“Fecham as esplanadas e os restaurantes mas as pessoas podem aceder à frente marítima e ao apoio balnear – espreguiçadeiras, cadeirões, casas de banho – até às 19h00”, explica ao i João Carreira, presidente da Federação Portuguesa dos Concessionários de Praia (FPCP) e proprietário do bar de praia Waikiki, na Costa da Caparica, concelho de Almada.
O empresário mostra-se frustrado com as atuais regras, dizendo que não faz sentido que os concessionários sejam obrigados “a dar assistência à praia até às 19h”, sendo no entanto obrigados a encerrar o serviço de esplanada às 15h30. “Mas depois o Uber Eats já pode vir entregar à praia que não faz mal…”, desabafa João Carreira em tom irónico.
Apesar de nos concelhos que se encontram em risco muito elevado ser obrigatório que os restaurantes e bares de praia fechem as 15h30, a vigilância tem de continuar a existir, assim como o apoio aos banhistas. Por isso, por estarem fechados, mas continuarem obrigados a manter estes serviços, os empresários vêm-se duplamente prejudicados.
“Nós somos obrigados a dar assistência à praia e como tal, cumprimos a lei, mas é um prejuízo gigante”, lamenta o presidente da FPCP.
O empresário refere ainda que, ao estar apenas habilitado “a vender ao postigo e em take-away”, todas as pessoas “que estão na praia vão juntar-se no bar e fazer fila”, acabando muitas vezes por, devido a não permanecerem na esplanada, sujar com comida e embalagens outros locais. Para complicar ainda mais o negócio, não se pode vender álcool ao postigo por ser proibido consumir em locais públicos depois das 15h30.
Como é óbvio, as forças de segurança não conseguem controlar os banhistas que vão fornecidos de casa e que levam cervejas e vinho nas geleiras.
“Se as pessoas podem estar na praia até às 19h [hora em que encerram os serviços de apoio aos banhistas], então devíamos poder servir na esplanada até essa hora também”, afirma João Carreira. “É ridículo, se eles querem fechar, fechem tudo”.
Um pouco mais ao lado, na praia da Fonte da Telha, não há lugares para estacionar. Passa um pouco das 15 horas, o que significa que daqui a menos de 30 minutos, os estabelecimentos têm de encerrar. No entanto, pelo que se observa ninguém o diria.
“É óbvio que, como concessionário, não me faz sentido fechar às 15h30 e ter pessoas na praia mas se me perguntarem se eu entendo a medida, eu entendo”, afirma Maria João Pereira ao i, salientando que “apesar de ter de fechar a essa hora, as praias vão continuar cheias de pessoas que não cumprirão minimamente as medidas de segurança”.
A responsável do restaurante Rampa Beach Club, adianta que, desde que reabriu o espaço que diz ” que se chegássemos a agosto seria uma sorte”. Por aquilo que tem observado, a empresária acredita que o Governo fez bem em “colocar um travão”, uma vez que é “difícil controlar as pessoas, como vê”.
Enquanto fala connosco, sai do restaurante um grupo de jovens sem máscara, comportamento que que Maria João alega ser “bastante normal”, apesar de os funcionários informarem que, para sair da mesa, a proteção individual é necessária. “Passados quase dois anos de pandemia, ainda é preciso sermos nós a informar os clientes que é necessário usar máscara dentro do espaço”, refere.
“Nós estamos a seguir todas as regras, por isso é que ganhámos o selo Clean&Safe: Assim que um cliente sai, automaticamente são desinfetadas a mesa e as cadeiras”, afirma a empresária que às 14h deixou de servir refeições devido à acumulação de pedidos na cozinha.
“As pessoas, ao saberem que fechamos às 15h30, vêm todas à mesma hora. Às 14h deixei de poder sentar pessoas que vinham para almoçar que chegaram mais de 10 grupos ao mesmo tempo”, afirma, acrescentando que a partir daquela hora só serviu quem queria “beber café ou tomar uma bebida”.
O serviço ao postigo no Rampa inicia-se às 16h, “para dar tempo à cozinha de escoar os pedidos”, explica Maria João.
Nas praias da zona de Setúbal, como a Figueirinha ou o Portinho da Arrábida, o cenário em quase tudo era semelhante, excetuando no horário de fecho, que se alargava até às 22h30. Tanto na areia como no calçadão, a distância era reduzida, assim como o número de pessoas que envergavam máscara. E tal como nas praias do concelho de Almada, era praticamente impossível encontrar um lugar para estacionar.