Para algumas mulheres é uma opção, o culminar de um caminho percorrido com a esperança de ainda conseguir trazer um bebé ao mundo. Para outras, é uma surpresa, abraçada com carinho. A ideia de que a mulher possui «um prazo de validade» continua muito presente e ainda são muitos os «olhares» que interrogam o porquê de se optar por esperar pelos 40 anos para ser mãe. A verdade é que os números estão a aumentar e são cada vez mais as mulheres que se sentem capazes de embarcar nessa «aventura» cada vez mais tarde.
O caso público mais recente leva-nos até Madrid, ao seio da família real. Telma Ortiz, irmã da rainha Letizia, fará 48 anos no próximo outubro e está grávida do seu segundo filho. Era um dos grandes desejos: dar um irmão à sua filha Amanda, agora com 13 anos. Mais de uma década depois, esse sonho será realizado em conjunto com o advogado Robert Gavin Bonnar, que já possui dois filhos, Cathal e Flori, nascidos em 2006 e 2007. Não se sabe o sexo do bebé e quando nascerá, mas pelas imagens publicadas pelos meios de comunicação espanhóis, parece claro que Telma já está, pelo menos, no segundo trimestre de gravidez.
Mas são cada vez mais as celebridades internacionais que optam por ser mais mais cada vez mais tarde e exemplos não faltam. Salma Hayek, agora com 54 anos, é um deles. A atriz mexicana foi mãe pela primeira vez aos 41 anos e, numa entrevista à Oprah Winfrey confirmou ter sido essa mesmo a sua opção: «É chato esperar tanto tempo, mas é a melhor altura, porque já fizemos tantas outras coisas na nossa vida que nos podemos finalmente concentrar em ser mães», explicou. Halle Berry, a atriz norte-americana conhecida pelo filme Cat Woman, também foi mãe pela primeira vez aos 41 anos e quando «pensava estar à beira da menopausa» surgiu a segunda gravidez, aos 47 anos. Madonna, a rainha do pop, que deu à luz a sua primeira filha aos 36 anos, e que adotou quatro crianças vindas de África, tal como as duas atrizes, teve o seu segundo filho com 41 anos. Ao que parece estas três gravidezes ocorreram de forma tranquila, sem existirem problemas pelo meio. Mas ao contrário delas, Mariah Carey, que foi mãe com essa mesma idade, não teve a mesma sorte. A gravidez complicou-se por um estado de pré-eclâmpsia (pressão alta perigosa) e diabetes gestacional. Felizmente, os bebés nasceram saudáveis. Houve ainda quem se aventurasse na maternidade ainda mais tarde. Como foi o caso de Carla Bruni, casada com o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que foi mãe aos 43; Ivete Sangalo que aos 45 anos deu à luz as suas duas gémeas; Mónica Belluci que foi mãe pela segunda vez também aos 45 anos e, admitiu, na altura, estar assustada pela idade; Susan Sarandon que na sua juventude foi diagnosticada como estéril e, por muitos anos, se recusou a usar anticoncecionais, mas inesperadamente engravidou três vezes: a primeira, com 39; a segunda, com 42 e a terceira aos 45 anos. Céline Dion foi também um caso de sucesso… A cantora teve de passar por 6 tentativas de fertilização in vitro para conseguir ter os seus dois gémeos que nasceram quando esta tinha 42 anos. Na altura, a cantora sublinhou que «a fertilização in vitro é um processo emocionalmente muito difícil».
Parece uma «coisa» de celebridades, mas não é. Por cá, os dados do portal Pordata não deixam dúvidas: as mulheres estão a ser mães cada vez mais tarde, apesar dos dados iniciais atenderem a uma descida de fertilidade com idade mais avançada – em 2020, 15,6% das mulheres entre os 40-44 anos foram mães, enquanto em 1960 essa taxa foi 42,5%. Os mesmos dados revelam ainda que os números desceram até 1997, tendo depois voltado a aumentar até aos dias de hoje, sendo, aliás, estes 15,6% a maior percentagem de mulheres grávidas entre os 40-44 desde a década de de 1980.
Embora existam alguns riscos associados à gravidez tardia, que é importante conhecer e prevenir, a boa notícia é que a maior parte das mulheres saudáveis que engravidam após os 35 anos «têm bebés saudáveis». Segundo informações da CUF, o pico da idade reprodutiva numa mulher situa-se entre «o final da adolescência e os 29 anos». A partir daí, a fertilidade começa a diminuir: entre os 20 e 30 anos, cerca de uma em cada quatro mulheres consegue engravidar num único ciclo menstrual, aos 40 anos, essa probabilidade é de uma em cada dez mulheres. Contudo, engravidar depois dos 40 anos apresenta, hoje em dia, menores riscos do que há alguns anos e a maior parte das mulheres nesta faixa etária, desde que saudáveis, não têm quaisquer problemas.
Helena Inverno, Catarina Beato e Marisa da Palma foram três das mulheres que contribuíram para ‘engordar’ estas estatísticas.
Helena Inverno, com 57 anos, é professora de História e considera que o contacto com os jovens a enriquece todos os dias, fazendo-a «envelhecer mais lentamente». O seu primeiro filho nasceu quando esta tinha 38 anos que, segundo a professora, já era uma idade um pouco tardia para a época. «Inicialmente eu e o pai, planeámos que a 2º gravidez acontecesse cerca de um ano depois do nascimento do nosso 1º filho, mas a natureza não quis assim e, quando já estávamos quase a desistir, justamente por eu já ter 40 anos e o pai 41, aconteceu», revelou à Luz, acrescentando que, nessa altura, «a nossa idade era uma fator importante, pois receávamos que houvesse algum problema de saúde para o bebé e também temíamos ser demasiado velhos para pais». Mas a gravidez seguiu e Helena não podia ter ficado mais feliz. Segundo a professora, não existiram grandes diferenças da primeira gravidez para a segunda. «Senti que as pessoas à nossa volta procuravam desdramatizar e punham grande enfoque no facto de que, apesar da nossa idade, havia muitos exames médicos que se podiam realizar para detetar algum eventual problema e que tudo iria correr bem», contou.
Ao contrário da docente, Catarina Beato, de 43 anos e criadora de conteúdos, foi mãe pela primeira vez «cedo», aos 24 anos, «altura em que ninguém tinha filhos», acredita a influencer. Atualmente é mãe de três filhos, estando grávida novamente. Aos 24, nasceu o Gonçalo, aos 33, o Afonso, aos 38, a Maria Luiza e agora, aos 43, Catarina espera a chegada de Mariana. «Eu diria que mais do que a idade, o que teve mais impacto em cada uma das gravidezes, foram as circunstâncias da vida. Por exemplo, fisicamente, a gravidez em que passei pior, foi a primeira. Passei muito mal em termos de tensão alta, dores, coisas que não aconteceram nas outras gravidezes. Mesmo nesta, em que já tenho 43 anos», explicou a criadora de conteúdo, que afirma não acreditar que esta seja uma gravidez «tardia»: «Acredito que se a natureza permitiu que eu e o Pedro gerássemos um bebé, é porque essa capacidade física existe», acrescentou.
Com quase 76 mil seguidores no seu Instagram, considera que a sua «missão» em termos de exposição, é aproveitar a formação enquanto coach para «normalizar as várias formas de viver e ser feliz». O impacto do anúncio da última gravidez é um bom exemplo disso mesmo: «Foi quase um ‘grito de esperança’, porque para a maioria das mulheres continua a existir esta ideia muito vincada de ‘prazo de validade’. É óbvio que nós, sendo mulheres temos ‘prazo de validade’, porque nascemos com um número definido de óvulos que se vão gastando ao longo da vida, não temos uma fertilidade infinita, mas a verdade é que fisicamente, hoje em dia, aos 43 anos, somos muito capazes de gerar uma vida», defendeu, admitindo que, o que mais lhe custa é sentir que algumas das suas amigas da mesma idade, não têm essa possibilidade, ou por «situações de infertilidade», ou «abordos espontâneos», quase como se houvesse «um bocadinho de vergonha em teres tido o privilégio da fertilidade». Esta ideia faz-nos mergulhar na história de Marisa da Palma, de 41 anos, que há muito tempo «luta» para poder ser mãe, por fertilização in vitro.
Além dos entraves colocados algumas vezes «pela natureza», a luta pela gravidez trava-se também noutras frentes. A ajuda médica tem custos que, a partir dos 40, são mais elevados. Os hospitais públicos não aceitam as mulheres que procuram concretizar o desejo de maternidade na quarta década de vida, ainda para mais quando o fazem sem um homem ao seu lado e, este, é o caso de Marisa: «O meu relógio biológico começou a afirmar-se cedo, amo cuidar dos outros e as crianças sempre me fascinaram, mas a vida não me deu essa oportunidade mais cedo», explicou. Como não tem companheiro, muita gente à sua volta a interrogava do porquê de não ter um filho com um homem qualquer, mas para a assistente de loja isso não fazia sentido, optando por embarcar nessa aventura sozinha.
Ponderou ir até Espanha, até que a lei em Portugal alterou, permitindo às mulheres solteiras ter filhos com ajuda medicamente assistida. Começou a procurar auxílio aos 37 anos de idade, mas só depois de uma longa espera e várias «barreiras» é que percebeu que o seu sonho só seria concretizado através do hospital privado: «Fizeram-me sentir fora de prazo muitas vezes, chorava muito quando saía de cada consulta até que um dia pensei em migrar este processo para o privado», lamentou. Foi exatamente aí que Marisa viu a «luzinha no fim do túnel». No privado os custos dependem do tipo de procedimento médico necessário. Um tratamento de fertilização in vitro com óvulos próprios custa cerca de 4200 a 4800 mil euros, aumentando este valor para cerca de 6000 a 6500 se o tratamento for feito com doação de óvulos. «No meu caso fiz três tratamentos, dois interrompidos a meio por causa de um quisto, e outro que foi até ao fim, mas sem o resultado esperado», revelou.
Quando a pandemia de covid-19 se «instalou», Marisa diz ter tido a impressão que o mundo parou, mas a sua idade e vontade de ser mãe, não. «Fiquei aflita… Tinha mudado de trabalho, mudado de cidade, virei a minha vida do avesso para ser mãe e nunca mais conseguia engravidar. Já tinha 41 anos e senti que a esperança estava a desaparecer», adiantou. Mas apoiada pela família e amigos, que a incentivaram a criar um crowdfounding, em 3 meses conseguiu ter o dinheiro necessário para voltar a tentar e em janeiro de 2021, começou o seu último tratamento. Dele resultou «o seu» José Maria. Marisa da Palma está agora grávida de seis meses e diz-se «ansiosa» por conhecer o seu bebé «tão desejado».
Ouve-se, muitas vezes, que uma das maiores preocupações em ser mãe «tardiamente» é o medo de não conseguir acompanhar os filhos. Contudo, estas três mulheres não partilham desse receio. Helena Inverno compreende essa apreensão, apesar de não a sentir: «Eu tenho conseguido acompanhar os meus, espero vir a ser avó, viver todos os momentos importantes deles, até porque a esperança de vida é cada vez maior. Aos 41-42 anos tinha a mesma energia que tinha aos 37 e tinha mais experiência (como mãe). Também podemos dizer que aos 40 se tem mais maturidade, mais serenidade para enfrentar as situações (e, por vezes, há momentos muito stressantes associados à maternidade!)», esclareceu. A única desvantagem que a docente aponta relativamente ao «adiamento da maternidade» é que «há amigas minhas com a mesma idade que eu que já são avós e os filhos já são independentes e têm já a sua vida organizada! E também me dá vontade de viver essas experiências! Mas… lá chegarei!», partilhou. Já Catarina Beato, considera essa ideia de acompanhar os filhos é «uma mentira»: «É uma ilusão que todos temos da idade. Há mulheres de 20 anos muito velhas, do ponto de vista físico e mental e há mulheres com 60, 70 e 80 anos que são jovens. Não me faz confusão». Para a criadora de conteúdo, se uma mulher tem saúde e se sente capaz de gerar uma vida aos 40 e tal anos, deve fazê-lo, «aliás, é capaz de ser mais difícil ser mãe numa altura em que estás a construir uma carreira, como aos 20 e tal anos, do que aos 40», frisou.