Manifestações em Cuba são “ingerência estrangeira”, diz Rússia

Os cubanos saíram às ruas para protestar contra a ditadura que governa o país há mais de 50 anos. A Rússia acusa a “ingerência estrangeira”.

Há décadas que as ruas das cidades cubanas não se enchiam de manifestantes contra o regime, muitas vezes oprimidos pela repressão da ditadura que se instalou no país há mais de 50 anos, sob a bandeira de uma revolução comunista, apoiada pela antiga União Soviética, e com um apelido a liderar as tropas: Castro.

Durante o último domingo, no entanto, o panorama em Cuba foi diferente. Milhares de manifestantes protestaram contra o Governo cubano, a sua gestão da economia nacional e do combate à pandemia da covid-19, que, nesse mesmo dia, causou quase 7000 novos casos, e 47 mortes associadas ao novo coronavírus.

Horas depois das manifestações, que tiveram direito a repressão policial e detenções, a Rússia apoiou a narrativa de Miguel Díaz-Canel, Presidente de Cuba, que acusou os protestantes de ser “mercenários” contratados pelos Estados Unidos da América para causar instabilidade no país.

Em resposta, e em forma de apoio ao Governo cubano, rapidamente a Rússia se alçou para criticar a “ingerência estrangeira” no país. “Consideramos inaceitável qualquer ingerência estrangeira nos assuntos internos de um Estado soberano e qualquer outra ação destrutiva que promova a desestabilização da situação na ilha”, referiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, em comunicado, antes de garantir que o país está seguro “que as autoridades cubanas estão a tomar todas as medidas necessárias para restaurar a ordem pública, no interesse dos cidadãos do país”.

A Rússia vai “acompanhar de perto a evolução da situação em Cuba e nos arredores”, garantiu o próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros do país, numa intenção que faz lembrar os acontecimentos do “maleconazo”, em 1994, quando os cubanos protestaram pelas deficientes condições de vida no país, agravadas pela queda da União Soviética, o seu maior aliado.

pátria e vida As autoridades cubanas tiveram um domingo recheado de trabalho, ocupando as ruas do país na tentativa de parar uma onda de protestos que começou na pequena cidade de San Antonio de Los Baños, onde vivem cerca de 50 mil pessoas, e acabou por ter eco por todo o país, apesar do limitado acesso à internet e a meios de comunicação.

A má gestão da pandemia da covid-19 foi a gota de água que levou os cubanos à rua, que se manifestam também contra as violações da liberdade pessoal e as fracas condições financeiras do país, que regrediu economicamente 11% no último ano.

De repente, milhares gritavam na rua “pátria e vida”, “não temos medo” e “liberdade”, dando voz às críticas contra o Governo de Miguel Díaz-Canel, herdeiro do regime instalado pelos irmãos Castro. O mesmo, aliás, respondeu às críticas e aos protestos, chamando todos os apoiantes do seu Governo “às ruas”, com o grito de guerra “A ordem para lutar foi dada, os revolucionários às ruas!”.

APOIO NORTE-AMERICANO Onde está Cuba e Rússia, estão também os Estados Unidos da América. Por um lado, cubanos e russos acusam os norte-americanos de serem os causadores da instabilidade no país, acusando o seu embargo comercial como o principal causador da grave situação social e económica que se vive na ilha das Caraíbas. Já o Executivo liderado por Joe Biden mostrou-se preocupado com a situação em Cuba, definindo os protestantes como “manifestantes pacíficos”, e afirmando estar atentos a qualquer uso excessivo de violência e repressão policial.