Mamadou Ba afirmou, em entrevista ao jornal i, que se sente sob ameaça em Portugal e que a sua situação é “perigosa”, uma vez que considera que “há uma evidente infiltração da extrema-direita nas forças de segurança”.
Questionado sobre se se sente mais ameaçado agora do que há um ou dois anos, o ativista da SOS Racismo, responde afirmativamente e justifica: “porque o ambiente político mudou”.
“Nós temos uma direita mais institucionalizada e mais violenta, é natural que me sinta mais ameaçado. Além do mais, continuo a defender uma tese, que é polémica, de que há uma evidente infiltração da extrema-direita nas forças de segurança, e isso não sou só eu que o digo, são os relatórios internacionais que apontam para esse facto”, começou por dizer.
“Parece-me que a porosidade política entre o Movimento Zero e determinados grupos de extrema-direita, e o próprio Chega, não deixam margem para dúvida dessa infiltração, o que torna a minha situação perigosa, uma vez que quem tem de garantir a segurança dos cidadãos são as forças de segurança, que se estiverem infiltradas pelas forças da extrema-direita, que me querem ver morto a todo o custo, é evidente que tenho a minha vida em risco”, acrescentou.
Mamadou Ba apontou ainda o dedo ao partido de André Ventura como uma “autoestrada institucional” para o racismo e considera que este “nunca devia ter existido, porque professa valores e ideais que não são constitucionais”.
“É óbvio que um país com a nossa história tem racismo estrutural, como têm outros países que têm uma história colonial igual à nossa (…) Acho que o racismo sempre existiu em Portugal. O que não havia antes, e essa é a diferença, era uma autoestrada institucional para o racismo, que se chama Chega", disse.
"Durante anos criámos a ilusão de que Portugal era uma ilha em relação ao resto da Europa, porque não tínhamos nenhum deputado da extrema-direita eleito para a Assembleia da República, porque havia representação política consistente das forças de extrema-direita no poder local, então, alimentámos o mito de que Portugal seria uma ilha, e não é. Basta ver a ascensão de André Ventura para perceber que não é um acaso, há alguma base social para ele poder ter este crescimento, não é só pelo desgaste da credibilidade dos políticos junto dos cidadãos – porque há um descrédito grande, há um divórcio entre os cidadãos e o espetro político –, mas não é só isso que o explica. Há uma base social que sustenta o programa que o Chega corporiza”, defendeu.
O também ex-dirigente do Bloco de Esquerda considera ainda que uma das estratégia de André Ventura “é enfraquecer o regime ao ponto de o poder subverter”.
Na mesma entrevista, Mamadou Ba falou sobre o polémico tweet que fez acerca do apresentador da TVI Manuel Luís Goucha. “Goucha, o gay que tentou reabilitar Mário Machado, um criminoso nazi, homófobo assumido, sai agora definitivamente do armário racista e apoia a candidatura racista do PSD na Amadora. Isto vai para lá do sinistro homonacionalismo”, escreveu o ativista ao comentar o facto de Manuel Luís Goucha ter sido escolhido para presidir à Comissão de Honra da candidatura de Suzana Garcia à Câmara da Amadora.
Mamadou Ba não mostrou arrependimento pela forma como se expressou e justificou que “não há qualquer condescendência com a indignidade”.
“A homofobia e o racismo são indignidades (…) quem compactuar com a indignidade é que é o responsável pelo seu alastramento”, disse, sublinhando que nunca lhe “passaria pela cabeça pôr em causa a orientação sexual” de Manuel Luís Goucha.
“Quando o Manuel Luís Goucha convidou o Mário Machado, a maior parte das pessoas não percebeu as nossas críticas. E quando nós criticamos a forma como ele abriu alas à Suzana Garcia, também houve quem não tenha percebido. O que eu quis explicar com o meu post é que o trajeto de Manuel Luís Goucha não é inocente. O facto de ele se juntar à candidatura de Suzana Garcia não é inocente. Ele comunga da filiação ideológica e doutrinária da Suzana Garcia, que é uma racista. Digam o que quiserem ou que ela chore as lágrimas que quiser na televisão”, afirmou ainda.