António Costa e o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, anunciaram esta semana, com pompa e circunstância, um conjunto de medidas para a requalificação da área florestal de norte a sul do país.
Já lá diz o povo: mais vale tarde que nunca. Mas a verdade, porém, é que anúncios há muitos e as concretizações são poucas – aliás, uma especialidade deste Governo e em particular do Ministério de Matos Fernandes.
Basta andar pelas estradas nacionais – ou até mesmo pelas principais autoestradas, entre Lisboa e o Porto (tanto pela A1 como pela A8, ou mesmo pela A13 até Coimbra-Poiares), ou entre a capital e o Algarve (pela A2 ou pela mesma A13 até à Marateca) – para verificarmos que muito poucochinho ou praticamente nada foi feito em matéria de requalificação da nossa floresta desde os dramáticos incêndios de 2017. E já passaram quatro longos anos.
Se houve alguma intervenção digna de registo, foi somente em matéria de cadastro e de limpeza, mas mesmo nesta última já com manifestas falhas e graves, para as quais a pandemia vai servindo de esfarrapada desculpa.
Ou seja, está tudo como dantes e as lições e ilações das tragédias de 2017, apesar de tudo o que foi dito, de tantas promessas e compromissos políticos ao mais alto nível, são nenhumas.
Andar pelas estradas do país, e, volta a sublinhar-se, mesmo pelas mais utilizadas, é bastante para se perceber os inúmeros riscos a que continuamos a estar sujeitos, tantos os atropelos às mais elementares regras de segurança: árvores até à beirinha do alcatrão, casas, fábricas e armazéns à sombra de denso arvoredo, depósitos de madeira ardida ainda dos mesmos fatídicos incêndios que, na melhor das hipóteses, parecem esquecidos, queimadas que continuam a fazer-se em sítios impensáveis e apesar de todas as proibições.
Mas é também uma oportunidade – quando não se viaja à velocidade dos nossos ministros e demais personalidades com cargos públicos ou políticos – para se observar outras realidades, que, não obstante, nada têm a ver com tais planos de requalificação das matas e florestas de Portugal.
É o caso da paisagem alentejana, que a barragem de Alqueva transformou e que deu origem a extensos olivais de cultura intensiva e, mais recentemente, a não menos extensos pinhais de pinheiros mansos, que proliferam por todo o Alentejo. Que nunca terá produzido tanto azeite e tanto pinhão.
Curiosamente, agora que é comum falar-se nas virtudes dos sobreiros na linha da frente para o retardamento dos fogos e quando já há técnicas de rega que permitem acelerar nuns bons anos o seu crescimento e o ciclo da cortiça – em cuja exploração, produção e exportação, bem como em múltiplos aproveitamentos pioneiros, Portugal está na dianteira mundial – o montado parece estar a perder terreno no Alentejo.
Região que parece condenada a uma mais radical e não menos impactante mudança de paisagem.
Ao ponto de o secretário de Estado adjunto do ministro do Ambiente, João Galamba, já nos ter vindo avisar, precisamente esta semana, que é uma ilusão pensar-se que as necessidades de criação de energia solar poderão ser satisfeitas pela colocação dos famosos painéis nos telhados portugueses – como acontece nos países nórdicos.
Preparemo-nos, pois, para vermos Portugal – e sobretudo o Alentejo – coberto dessa espécie de campos de espelhos produtores de energia.
Já os há, e de quilómetros, mas vêm aí muitos mais.
Um dos requisitos parece que será terem uma envolvência de arvoredo que reduza o impacto visual, criando uma espécie de barreira ou vedação arbórea. Ou seja, para nos criar outra ilusão.
Enfim, não fosse este Governo de António Costa especialista em ilusionismos e malabarismos para esconder o que quer.