"O Estado tem de procurar manter coerência e consistência relativamente às formas como homenageia os maiores que nos deixam, nem todas as figuras têm merecido esta distinção [luto nacional]”, declarou o primeiro-ministro nesta terça-feira, nas cerimónias fúnebres de Otelo Saraiva Carvalho, em Lisboa.
Reagindo à polémica decisão de não decretar luto nacional pela morte de Otelo, defendeu que “há formas múltiplas de homenagear os nossos grandes” e explicou que “obviamente o Estado curva-se perante a memória do general Otelo”.
“Creio que é inequívoca a forma como o Estado homenageia Otelo”, frisou António Costa, recordando que o Governo emitiu “imediatamente” um comunicado aquando da notícia da morte do capitão de Abril. Em retrospetiva, o chefe do Executivo contou que tem “um especial carinho” em relação ao general, porque, quando era criança, a sua mãe, Maria Antónia Palla, jornalista, foi em serviço mais de seis meses para os Bijagós (ilhas costeiras da Guiné-Bissau) “e a única ponte de contacto entre nós era assegurado através do responsável da assessoria de imprensa – que era precisamente Otelo (…)”.
A seu lado, o Presidente da República justificou igualmente a decisão. “Penso que pesou o facto de figuras que eu já referi, como Salgueiro Maia, Melo Antunes, não terem merecido essa homenagem. Olhando para trás, é pena que não tenham merecido”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, adiantando que “na altura não ocorreu e, portanto, para não abrir um debate sobre vários nomes cimeiros, qual o mais cimeiro”, o Governo não deu o “passo”.
“Quem decide o luto nacional é o Governo e, portanto, respeito a decisão que foi tomada. Compreendo que, neste momento, essa é uma questão que não se coloca. As homenagens ao Otelo podem ser feitas nesse contexto ou noutro, bastante mais tarde”, afirmou por seu lado Eduardo Ferro Rodrigues.