A vida para as discotecas do país vai continuar em pausa até, pelo menos, outubro deste ano. O anúncio foi feito por António Costa, no mesmo dia em que o setor tornou público que 60% dos estabelecimentos acabaram fechados, como consequência das limitações impostas pela pandemia da covid-19. Uns 60% que Ricardo Tavares, empresário associado à Associação de Discotecas Nacional e à Associação Portuguesa de Bares e Discotecas, admite que, quando chegue a altura de pagar as moratórias e as rendas em atraso, poderá subir até aos 80%.
Tavares, responsável pelo grupo de espaços de diversão noturna Fiéis, não esconde a sua frustração com o anúncio de António Costa, acusando o primeiro-ministro de “teimosia”. O fecho das discotecas, garante, “já não faz sentido nenhum”. “É uma teimosia do nosso primeiro-ministro. No resto da Europa os bares estão abertos, e pensamos que António Costa ia ser sensível a isso e fazer o mesmo. Não foi isso que aconteceu e vamos ter de aguardar. No caso dos bares, podem adaptar-se às condições da restauração e abrir assim, mas não é isso que está no nosso ADN. Queremos fazer aquilo que sabemos fazer, e sem restrições”, explicou o empresário ao i.
“Com mais de 57% da população com as duas doses da vacina, 70% com a primeira, os grupos de risco todos vacinados, era só abrir… mesmo com os certificados, para o indoor, não há porquê para continuar fechados”, lamenta o empresário, que de seguida aponta o dedo àquela que lhe parece tem sido, e será, uma das maiores incongruências desta medida: “O que tem acontecido são muitas festas ilegais. Até casamentos falsos para pôr 500 pessoas a dançar até às 6 da manhã se fazem. Quando dissemos ao primeiro-ministro que tínhamos condições para que as pessoas nos nossos espaços tivessem segurança, não pudemos… depois fazem-se estas festas, e há surtos”.
O uso do Certificado Digital Covid-19 é uma das medidas apresentadas para permitir a entrada nas discotecas a partir de outubro, mas Ricardo Tavares questiona a utilidade da mesma, tomando em conta o momento em que será aplicada. “Era uma medida viável até para a abertura imediata. Nessa altura [em outubro], com já 85% da população vacinada, para que é que seria útil isso? Agora é que fazia sentido. É o que faz o Reino Unido, Paris, Itália… Espanha é o que começou a fazer. Só nós é que estamos na cauda da Europa”.
À conversa com o i esteve também Bartolomeu Costa Macedo, responsável pelo espaço Cargo 111, no Bairro Alto, que retomou a crítica feita pelo colega de profissão em relação às festas ilegais. “É uma falácia fechar as discotecas e os bares, quando depois, mesmo ao lado, há apartamentos alugados, festas no meio do mato… ao menos nas discotecas haveria forma de controlar a situação, com controlo de entradas, máscaras, certificados”, começa por explicar o empresário que, apesar de garantir “não estar de acordo com 90% dessas medidas restritivas”, recorda que, com discotecas e bares fechados, os jovens “vão todos reunir-se na mesma”. “Quem tem as condições para ter as coisas bem feitas, não pode… então ao que é que obriga? A festas ilegais”, acusa o mesmo.
Bartolomeu Costa Macedo não poupa nas críticas ao Governo pelo adiamento da abertura de discotecas para outubro deste ano. “É uma opção ridícula. O verão ‘fechado’ é para as pessoas não se divertirem, sobretudo nas zonas balneares, onde está grande parte da população neste momento. Essas zonas, que tinham o seu foco nas festas de verão, vão estar dizimadas pelo segundo ano consecutivo, quando não terão disponibilidade de fazer seja o que for, e ainda por cima quando já temos uma grande parte da população vacinada, entre a qual a maioria dos casos mais perigosos”, lamenta o empresário, acusando o Executivo de António Costa de “tirar medidas da cartola sem pensar nas consequências e naquilo que está a causar”.
APSTE acusa insuficiência das medidas
Quem também teve uma palavra a dizer sobre as medidas que saíram do Conselho de Ministros foi a Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE), que acusa as medidas anunciadas de ficarem “muito aquém do que seria necessário para alavancar a retoma do setor, para o qual o período de verão já foi gravemente comprometido”. A falta de trabalho e a ausência dos resultados dos eventos-piloto realizados em abril e maio são duas reivindicações que surgem ainda, da Associação que recorda que “o setor dos eventos está parado há mais de um ano com perdas superiores a 100 milhões de euros”.