Desde a passada madrugada, os empresários da restauração e da noite parecem poder respirar de alívio. Mas apesar de reconhecerem a importância do desconfinamento, não esquecem os 11 meses em que foram “completamente ignorados”.
“Em primeiro lugar, houve da parte do Governo, desde o início da pandemia, um perfeito esquecimento do setor da animação noturna”, começa por dizer Mário Carvalho, fundador, entre outros, da discoteca Indústria e do café Lusitano.
“Estamos fechados há cerca de 17 meses e os apoios foram muito escassos. Além do layoff, os auxílios pontuais foram os do programa Apoiar. Depois de 11 meses em que fomos completamente ignorados, acabámos por ser abrangidos por tabela”, condena o empresário.
Para o responsável não há dúvidas: Esta “abertura não é uma lufada de ar fresco, mas sim uma ligeira brisa”, pois “os prejuízos acumulados pela inatividade, por um pequeno alargamento de horário, não desaparecerão”.
“Não salvaremos a nossa situação económica. Continuamos a ter restrições de horário e de lotação”, lembra, contrabalançando o fim da limitação de circulação na via pública a partir das 23h com o facto de os restaurantes passarem a poder estar abertos até às 2h com o número máximo de pessoas por grupo situado nas seis no interior e dez nas esplanadas, juntamente com a medida que indica que os clientes continuam a ter de apresentar certificados de vacinação ou testes negativos à sexta-feira à noite, ao fim de semana e aos feriados.
E apesar de aplaudir a reabertura dos bares e das discotecas com CAE de bar mas sujeitos às regras aplicadas aos restaurantes, espera que “o Governo não se esqueça dos apoios que tem de dar ao setor”. “Porque é que a obrigatoriedade dos testes e do certificado não está em vigor todos os dias? O vírus não ataca mais ao fim de semana nem aos feriados”, sublinha, avançando “que a vacinação é o mais importante para usufruirmos da liberdade em segurança”.
“A noite pode-se ainda salvar” Já José Gouveia, presidente da Associação Nacional de Discotecas, acredita que “com esta decisão, vai-se salvar um verão que se apresentava condenado”, sendo que “muitas empresas caminhavam para o abismo e agora temos condições de aproveitar o turismo que está regressar, o período de férias dos portugueses que se dirigem para as zonas balneares ou aqueles que simplesmente querem beber um copo”.
Ainda que diga com convicção que “é previsível que seja um mês forte para a indústria da noite”, havendo “o regresso à liberdade”, recorda que “os níveis de confiança dos portugueses estão em baixo, ou seja, têm consciência daquilo que é a covid-19 e das suas consequências”, sendo os jovens a exceção à regra, pois “têm um sentimento de imortalidade muito grande” e, por isso, alerta para a necessidade de uma “consciência de grupo senão fechamos novamente”.
“A noite pode salvar-se ainda, apesar de ter corrido grandes riscos de desaparecer completamente. Criticámos sempre o Estado, mas é altura de olhar para o copo meio cheio”, sugere. “Foram 17 meses de porta fechada e, destes, 11 sem apoios. Houve um silêncio ensurdecedor da parte do Governo em relação ao nosso futuro. Neste momento, as coisas estão a acontecer”, adianta o dirigente da organização que também representa os bares, indo ao encontro da perspetiva da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal.
“Face ao anúncio do novo plano de desconfinamento, não pode a AHRESP deixar de saudar a decisão de reposição dos normais horários de funcionamento dos estabelecimentos de restauração e similares (com o limite das 2h), que vai ao encontro das propostas que insistentemente temos feito junto do Governo”, explica.
Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde deste domingo, Portugal registou, nas últimas 24 horas, 2.306 novos casos de covid-19 e oito mortes associadas à doença. Desde março de 2020, o país já confirmou 970.937 contágios e 17.369 óbitos. Após quatro dias a reportar um número de óbitos acima da dezena, este valor desceu e o país contabilizou cinco mortes em Lisboa e Vale do Tejo (LVT), duas no Norte e uma no Algarve.
É de realçar que a região mais a norte foi aquela que diagnosticou mais casos, com 874. Já LVT reportou 770, Algarve 241, Centro 227 e Alentejo 129 novos contágios. Naquilo que diz respeito às ilhas, Açores registou mais 48 novas infeções e a Madeira 17.