Serão as cheias na Europa central o resultado de uma ação de dimensionamento com uma baixa probabilidade de ocorrência ou resultado direto das alterações climáticas? Embora haja incerteza na quantificação das alterações, há evidências científicas que confirmam uma tendência global preocupante.
Há atualmente duas estratégias para combater as alterações climáticas: mitigação e adaptação. Mitigação vai à fonte do problema, tentando reduzir de forma sustentada as emissões de gases de efeito estufa. No entanto, mesmo que parássemos de emitir hoje tais gases, o efeito no clima não será imediato em virtude da inércia climática. A adaptação implica intervir nas infraestruturas existentes, ou no meio envolvente, para aumentar a resiliência das mesmas.
Uma terceira via consiste em instalar sistemas automáticos de vigilância e alerta para avisar, em tempo útil, as populações em caso de iminência de catástrofe. Na Alemanha, essa via revelou-se ineficaz. Há relatos de alertas nacionais que falharam, com os políticos alemães a considerarem «inconcebível dizer que uma catástrofe como esta pudesse ser gerida centralmente», reclamando mais «conhecimento local». A nível local também há relatos de avisos lançados à população para abandonar as suas casas, mas as pessoas ora não abandonaram ora regressaram sem qualquer aviso prévio. O bom senso diz que as três opções são complementares.
O aumento do nível médio da água do mar e a intensificação dos incêndios florestais e chuvas torrenciais ameaçam pontes, estradas, edifícios, redes de energia e sistemas de água. As nossas infraestruturas precisam de ser preparadas para esta era de calamidades climáticas. Em linha com a minha área científica, destaco a possível adaptação climática das pontes (ex. Projeto ClimaBridge), cuja ideia geral se aplica às restantes infraestruturas.
Os efeitos expectáveis das alterações climáticas não são necessariamente iguais em toda a Europa, pelo que devem ser desenvolvidos programas regionais de proteção climática. Definir prioridades? Vamos então começar, por exemplo, pelas pontes sobre os leitos dos rios. Um dos efeitos que se prevê para Portugal é, precisamente, o aumento da frequência das chuvas intensas por períodos curtos de tempo, causando especialmente maiores caudais nos rios das bacias hidrográficas mais pequenas, inundações e, no limite, mais erosão do leito junto das fundações dos pilares. Uma medida de adaptação consiste na construção de obras de proteção do leito contra fenómenos de erosão. As cheias e as pontes não são um casal harmonioso, pelo que antecipar significa proteger.
*Diretor da Licenciatura e Mestrado em Engenharia Civil da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias