Em 490, a Pérsia invadiu a Grécia pela primeira vez. Dario I vivia na obsessão de vergar os seus vizinhos e enviou na frente das suas tropas os seus generais mais famosos, Dartis e Artafernes. Viajaram numa frota impressionante através do Egeu e, dominada a Ática, programou um desembarque em Maratona, nos arredores de Atenas, um lugar mágico no qual os olhos caminham por um mar azul-turquesa até atingirem um horizonte azul-impossível que quase cega quem nele fixa o olhar.
Os atenienses tinham consciência da sua inferioridade. Apelaram pela ajuda de Esparta, mas os espartanos celebravam um festival bem mais importante do que deter os persas. Responderam que não lhes dava jeito marcharem a direção a oriente. E, assim, os atenienses ficaram por sua própria conta. Algo que não abalou o otimismo do general Milcíades, que ficara famoso mais pela forma habilidosa como guiava quadrigas do que como se batia em batalha. Mas Milcíades tinha uma coragem que fazia fronteira com a inconsciência, algo que o tornava temível. Apesar de em menor número, o exército de Atenas lançou-se com um descaramento divino sobre os seus inimigos. Não foi preciso muito tempo para que os persas entrassem num pânico confuso e fugissem para os navios nos quais tinham chegado, embora muitos deles fossem chacinados durante a retirada. Maratona tornou-se o local que provava a todos os povos que os persas não eram invencíveis.
Se lermos Heródoto, o grande historiador grego, ficamos a saber que, após a vitória extraordinária, que protegeu a capital Atenas, um fulano bem conhecido por ser um corredor emérito, Pheidippides, ou Philippides, exatamente o mesmo que percorrera o percurso até Esparta para ouvir um não ao pedido de auxílio, foi escolhido para correr entre Maratona e Atenas para avisar o povo ansioso da vitória formidável. Se entre Atenas e Esparta e volta cumprira algo como 240 quilómetros, esta nova missão era uma brincadeira para meninos: 40 quilómetros. Foi com o peito leve como uma pena que se fez ao caminho. Levava uma palavra mágica para o grupo de magistrados que esperava ansiosamente por notícias: «nikomen» (vencemos!).
De Philippides a Spiridon
Philippides era o que se chamava um hemeródromo, isto é, um correio. Correr de um lado para, trazendo e lavando notícias, era a sua profissão. Mas nesse dia, a excitação da batalha terá bulido com o seu sistema cardiovascular. Ao chegar a Atenas, completamente esgotado, deixou-se cair na escadaria do Partenon suspirando «nikomen» antes de cair para o lado vitimado por um ataque cardíaco.
Há um grande número de versões sobre a história de Philippides, de Heródoto a Plutarco, cujas vidas foram separadas por quase 500 anos. O próprio nome é encontrado nas mais diversas formas. Muitos, muito anos mais tarde, quando os homens resolveram recuperar os Jogos Olímpicos, com a primeira edição da era moderna a ter lugar em Atenas, como seria de esperar, em 1896, um francês chamadoMichel Bréal, conseguiu convencer o barão de Coubertin e o Comité Olímpico Internacional a concluírem os Jogos com uma corrida que repetisse o percurso de Philippides de Maratona a Atenas – inicialmente 40km exatos, hoje em dia 45km195m. A ideia foi acolhida com entusiasmo.
Vinte e cinco atletas apresentaram-se à partida, a grande maioria desconhecendo por completo a violência a que iriam ser sujeitos. Alguns arrependeram-se mesmo antes de a prova começar. Só partiram 17. Com quilómetro e meio percorrido, Albin Lermusiaux seguia valentemente no comando, seguido pelo australiano Ted Flack e pelo norte-americano Arthur Blake. O ritmo que impuseram desde cedo revelou-se assassino. Blake ficou-se pelo quilómetro 23, Lermusieux caiu ao quilómetro 32. De passada regulada, tranquila, o grego Spiridon Louis chegara-se à frente e perseguia Flack cada vez mais de perto.
A quatro quilómetros do fim, foi a vez de Flack, a deitar os bofes pela boca, baixar os braços e encostar-se a uma oliveira para não cair redondo no chão. Spiridon Louis era o dono da primeira maratona olímpica com 2h58m50s, seguido por outro grego, Charilaos Vasilakos, com o tempo de 3h06m03s. Orgulho grego!
Nascido em Marousi, no dia 12 de janeiro de 1873, pastor de ovelhas e aguadeiro, tornou-se um herói grego até aos dias de hoje. Nos Jogos Olímpicos de 1936, foi vítima de uma fotografia assassina, entregando a Adolf Hitler um ramo de oliveira. Morreria quatro anos mais tarde, ainda antes da invasão da Grécia pelos nazis.