por Roberto Knight Cavaleiro
As formas rudimentares de mineração a céu aberto e metalurgia foram o esteio da economia desde os tempos calcolíticos. Artefactos de bronze e cobre eram exportados para mercados tão distantes quanto o Danúbio, enquanto a prata era enviada em grandes quantidades para os países do Mediterrâneo oriental. A chegada dos romanos trouxe uma nova tecnologia que permitiu um aumento da produção para atender a procura interna e a exigência de Roma para o pagamento do tributo.
A alternativa para a extração de superfície era a mineração em veios profundos que, embora mais difícil e perigosa, prometia melhores rendimentos para a extração de ouro e prata. Uma série de poços exploratórios estreitos foram cavados com uma profundidade de até 50 m até que um veio dos minerais foi encontrado. O poço seria então alargado para que galerias horizontais pudessem ser abertas e o minério içado por polias para a superfície. O mecanismo de levantamento era controlado por grandes rodas de até 5 m diâmetro em azinheira e operado manualmente.
Aquedutos foram construídos para levar água de rios represados para cisternas, que então desencadearam um poderoso fluxo através das minas de superfície para soltar as rochas. Máquinas conhecidas como “moinhos de estamparia” e “marteletes” também eram acionadas por esse fluxo e usadas para triturar o minério para que os metais pudessem ser extraídos.
O trabalho manual era fornecido quase exclusivamente por escravos, alguns dos quais eram prisioneiros ou reféns levados de tribos lusitanas, enquanto outros eram trazidos de várias províncias do Império Romano. As condições de trabalho eram péssimas, com apenas aventais de couro e capuzes a serem fornecidos como roupas de proteção, enquanto os túneis subterrâneos eram fracamente iluminados por lâmpadas a óleo instaladas em nichos. Quedas dos tetos eram comuns, especialmente quando os supervisores romanos deliberadamente acendiam fogueiras para soltar o minério. Os únicos acessórios disponíveis eram martelos de pedra e picaretas de ferro. Não é à toa que a idade média de mortalidade dos escravos ficava em torno de 25 anos, conforme registam os poucos epitáfios encontrados no cemitério do complexo dos trabalhadores.
Grande parte da extração mineral ocorreu na faixa pirita ibérica que cobriu uma vasta área geográfica que vai de Alcácer do Sal a Sevilha com as principais cidades mineiras em Aljustrel, Castro Verde, Neves Corvo e Mértola. No norte, de longe, a maior operação de mineração ocorreu em Três Minas, localizado perto de Vila Pouca de Aguiar na Serra da Pedala. Esta era talvez a maior mina de ouro da Península Ibérica, com uma enorme produção que ia quase exclusivamente para aumentar os cofres imperiais. A escala dessa produção pode ser avaliada pelo cálculo de montes de escória de 18 milhões de toneladas em Três Minas e 3 milhões em Aljustrel; números surpreendentes quando se aceita que tudo foi movido pelo trabalho manual
Toda a mineração no Portugal romano era controlada pelo Estado, com destacamentos do exército estacionados em todos os centros principais. A movimentação dos minerais processados era feita em carroças com proteção da cavalaria contra bandidos e severas penalidades eram impostas para furtos em trânsito ou no local. Para Aljustrel e alguns locais menores, um sistema de concessão foi permitido com uma taxa de exploração a ser paga inicialmente e uma parcela da produção (normalmente 50%) de qualquer minério extraído com sucesso. Este e outros regulamentos foram registados em duas placas de latão descobertas na escória de Aljustrel. Outros registos escritos são poucos e as avaliações precisas da indústria são em grande parte suposições baseadas no grau relativamente pequeno de escavações arqueológicas que revelaram uma abundância de pequenos locais onde chumbo, estanho, cobre, ferro e prata foram extraídos. Existem poucas evidências de atividade metalúrgica em escala industrial; devemos adivinhar que isso se restringia a pequenas fundições localizadas e ferreiros que produziam os acessórios e equipamentos de uso diário.
O catalisador da inovação e construção romanas expandiu enormemente a manufatura de materiais de construção, cerâmica e vidro que eram produzidos em fornos em todo o território, mas pouco se destinava à exportação, exceto talvez algumas ânforas usadas para vinho ou azeite. Da mesma forma, o aumento da população acarretou uma procura por melhores móveis domésticos e parafernália, alguns dos quais importados de outras províncias do Império e pagos com a receita derivada da mineração e do excedente da produção agrícola.
Nos últimos tempos, uma série de pesquisas de engenharia foram realizadas na região de Penamacor, no centro de Portugal, para avaliar o lucro que pode ser esperado de uma retoma da mineração. Isso despertou o interesse de mineiros privados que acreditam que “There´s gold in them thar hills” (há ouro naquelas colinas), mas parece que as relações custo / rendimento modernas reduzem a viabilidade, então a tranquilidade local não será perturbada.
Dois vídeos estão disponíveis no YouTube, que oferecem uma excelente apresentação das antigas práticas de mineração. O primeiro é da Speleo-TV e intitulado “Mineração Romana em Valongo (Porto)”, enquanto o segundo, feito em 2017, pode ser consultado no site Turismo de Três Minas.
Ilustrações
Mina subterrânea – Três Minas
Mina a céu aberto – Aljustrel