O Festival de Cinema de San Sebastían decidiu, na segunda-feira, atribuir o prémio Donostia da sua 69.ª edição ao ator Johnny Depp. O prémio tem como objetivo “reconhecer o extraordinário contributo ao mundo do cinema dado por grandes figuras que ficarão para sempre na sua história” e já foi atribuído a estrelas como Bette Davis e Al Pacino. No entanto, a Associação Espanhola de Mulheres Cineastas e de Meios Audiovisuais (CIMA, sigla em castelhano), condena a escolha do ator, que foi acusado de violência doméstica pela ex-mulher, a também atriz Amber Heard.
“Isto diz muito do festival e da sua liderança e passa uma mensagem terrível ao público: 'Não interessa se és um abusador, desde que sejas um bom ator'", afirmou, esta terça-feira, Cristina Andreu, presidente da CIMA à agência de notícias Associated Press (AP), sublinhando estar “muito surpreendida”.
Já a organização do festival sublinha que Johnny Depp, de 58 anos, é “um dos mais talentosos e versáteis atores do cinema contemporâneo”.
"Depp já interpretou escritores, polícias infiltrados ou foragidos, em elencos que o colocaram ao lado de figuras como Marlon Brando, Faye Dunaway, Jerry Lewis, Pene´lope Cruz, Helena Bonham Carter, Javier Bardem, Kate Winslet, Mark Rylance, Dustin Hoffman, Judi Dench, Antonio Banderas, John Malkovich, Marion Cotillard, Forrest Whitaker, Al Pacino, Benedict Cumberbatch, Morgan Freeman, Benicio del Toro, Michelle Pfeiffer, Leonardo Di Caprio e Christopher Plummer, entre muitos outros", sublinhou o festival.
Recorde-se que o ator e a ex-mulher, de 35 anos, têm-se acusado mutuamente de violência doméstica. Depp perdeu uma batalha judicial, em novembro de 2020, sobre difamação contra o jornal britânico The Sun, que o acusou de ser um "espancador de mulheres". Segundo o Supremo Tribunal de Londres, ficou provado que Heard era efetivamente vítima de violência doméstica, como tal o artigo não era difamatório. O ator viria a perder dois dos seus personagens mais rentáveis: Jack Sparrow, na saga "Piratas das Caraíbas" e Gellert Grindelwald, em "Monstros Fantásticos 3".
Já este ano, o ator voltou aos tribunais para discutir um caso de difamação, desta vez contra a ex-mulher, onde pediu 50 milhões de dólares. O processo começou em março de 2019, depois de, em dezembro de 2018, a atriz ter escrito um artigo no jornal Washington Post sobre ser vítima de violência doméstica. Apesar de o texto não falar em Johnny Depp, o ator alega que foi prejudicado pela sua publicação.
No processo contra a ex-mulher, Johnny Depp afirma que é a verdadeira vítima no casamento. "A Srª. Heard não é vítima de violência doméstica, ela é a perpetradora", lê-se no processo. Após esta acusação, a atriz processou o ator e pediu o dobro: 100 milhões de dólares.