1. Anualmente, o Negócios publica um ranking dos ‘50 mais poderosos em Portugal’ em que se pretende hierarquizar a importância de diversas personalidades (portugueses e estrangeiros) para o quotidiano de Portugal. Assim sucede mais uma vez, iniciando-se recentemente a publicação diária de 2 (duas) personagens, por ordem inversa de importância. A consulta desta lista é muito curiosa porque cobre os mais variados domínios nacionais, desde a política à economia, passando pela ciência, pelo mundo empresarial e pela banca, pela educação, pelas artes, etc..
Cada um dos nomeados é analisado por uma tabela de critérios, a saber: (i) poder da fortuna; (ii) rede empresarial; (iii) influência política; (iv) influência mediática; e (v) perenidade. De forma subjetiva mas certamente consensual na redação do Negócios, vão-se alinhando essas personalidades e, para minha surpresa, verificamos que os líderes partidários se encontram escassamente representados. Em 2020, apenas apareciam elencados Jerónimo em 44.º, Catarina em 36.º, Rio em 31.º e obviamente Costa em 1.º, logo seguido de Marcelo em 2.º. Este ano e no momento em que escrevo estas linhas em que os lugares se encontram definidos entre o 33.º e o 50.º, apenas surgem Jerónimo em 47.º e Rio em 39.º.
Feito este extenso introito, de imediato faço um comentário global – muito mal vai este país e a política nacional quando o principal líder da oposição (com 25% das intenções de voto em sondagens) vai em 39.º lugar, expressando um fosso de quase 40 lugares para Costa. Ou seja, não conta praticamente nada para Portugal e esta realidade indesmentível resulta de uma atuação demasiadas vezes apagada, sem ideias fortes e inovadoras que galvanizem as suas hostes, com a agravante de serem tantas as vezes que apoia o Governo que não se perceciona como oposição.
Vejamos o exemplo mais recente: a entrevista ao Expresso, um momento que poderia marcar uma viragem no PSD. Acossado por Marcelo a reclamar uma oposição que seja alternativa, Rio tentou marcar a diferença para o PS mas, mais uma vez, desperdiçou a oportunidade. Que ficou da entrevista? O reiterar da necessidade de uma revisão constitucional e do sistema eleitoral «em conjunto com o PS», num timing de eleições autárquicas!
A partir daqui o caminho ficou traçado. Ainda teceu uns considerandos sobre a inexistência de qualquer vontade do PS de fazer acordos com o PSD (como se não fosse uma evidência desde 2015), provocou a oposição interna ao afirmar que não existe no PSD uma alternativa forte e expressou uma sugestão de redução do IVA da restauração para 6% (em dois anos), ideias totalmente sem expressão para o interesse coletivo.
Uma entrevista de um líder da oposição deveria fazer tremer o primeiro-ministro e esta apenas o fez sorrir, pela inexistência de causas que digam alguma coisa às pessoas que votam. Estas olham para Rio com bonomia, como se nota por uma popularidade benévola, até positiva, ao estilo de «deve ser uma pessoa bem formada», mas não é percecionado como alternativa a Costa. O PSD e as suas bases já o entenderam há muito, mas preferem continuar numa crença masoquista de que as autárquicas vão arrumar com ele de vez, como se o arrastar de um problema o pudesse resolver.
As autárquicas não auguram nada de bom. Por razões insondáveis, Rio intrometeu-se em diversas concelhias e tentou impor os seus candidatos. Se em Lisboa (uma distrital que nunca esteve com Rio) e no Porto até foi fácil pela personagem de Moedas e pelas origens autárquicas de Rio, em vários distritos, ‘o tiro pode ter saído pela culatra’. As notícias fluem e dizem que Aveiro, Leiria e Viana do Castelo estarão a ‘ferro e fogo’, sem falar de Coimbra que continuará a ser utopia.
Resumindo, Rio é um líder que não soube unir o PSD e a constituição das listas para as autárquicas foi apenas mais um exemplo. As consequências são óbvias: Rangel anda na estrada, Montenegro espreita e Pinto Luz ainda continua no sonho. Mas se a oposição interna continuar dividida a pensar nos interesses individuais, não duvido que Rio possa sobreviver no próximo Congresso e o PSD nada terá que se admirar se o PS continuar o seu passeio triunfal até ao momento em que Costa decidir ceder a sua liderança.
2. Infelizmente, Marcelo tem todas as razões para estar preocupado e para mandar recados em vésperas do PRR: esta inexistência de oposição enfraquece o país e transforma um Governo fraco, que detesta reformas estruturais e a necessitar de uma remodelação urgente, num Governo forte e inamovível.
3. A Dielmar é uma empresa que conheci há largos anos, quando desafiava novos mercados. Sedeada em Alcains (Castelo Branco), empregava cerca de 300 pessoas (4300 eleitores na freguesia) quando solicitou a insolvência, com um passivo de Eur 18 M por resolver.
Dizem e admito que possa ter tido uma má gestão. Uma empresa familiar tem muitas vezes os defeitos da falta de quadros. Não se nota em momentos de crescimento, mas quando os tempos ficam difíceis como são estes da pandemia, a qualidade da gestão é crucial.
Entretanto, ouvi as declarações ‘geladas’ do ministro da Economia de um Governo PS que passo a citar «uma empresa sem hipóteses e não vamos colocar dinheiro bom em cima de dinheiro mau». Mas, recordando a TAP (e Groundforce) pergunto: será que com umas migalhas do PRR (e nova Gestão) não se salvaria a Dielmar, uma empresa de reconhecida excelência na indústria têxtil? Ou o PRR é fundamentalmente para ser capturado pelo Estado socialista?
P.S. – Salvé Pichardo, Mamona e Pimenta, que somam a Fonseca. Sentimos orgulho da vossa prestação, do espírito olímpico e das ‘nossas’ medalhas.